Título: Cosan quer captar US$ 2 bi em NY
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2007, Negócios, p. B16

A Cosan, maior agroindústria de açúcar e álcool do mundo, anunciou ontem uma operação a partir da qual pretende blindar a companhia contra ofertas de compra internas e principalmente externas ao mesmo tempo que prepara uma emissão global de ações no Brasil e nos Estados Unidos. O objetivo é captar pelo menos US$ 2 bilhões com a emissão primária de ações.

A empresa vai usar esses recursos para ampliar a capacidade de moagem da empresa em 50%, dos atuais 40 milhões de toneladas por safra para 60 milhões. Isso deverá ser feito com a construção de novas usinas, a expansão das atuais unidades e possivelmente compra de concorrentes.

A oferta global será subscrita pela Cosan Limited, a nova empresa criada no final de abril em Bermuda, um pequeno território sob domínio britânico localizado no meio do Atlântico norte. Rubens Ometto, atual controlador da Cosan, mesmo depois da nova oferta de ações, continuará no comando.

O instrumento utilizado por Ometto para isso foi a criação de duas classes de ações batizadas de A e B. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciou ontem que vai avaliar a proposta. Cada ação classe B, sob controle de Ometto, terá peso de 10 votos cada. Os papéis classe A manterão a relação uma ação um voto. Há quem tenha classificado a proposta de 'arbitrária' e 'contrária aos interesses do Novo Mercado'. Legal ou não, o fato é que a mudança, segundo analistas, afasta os riscos para o Ometto de um oferta hostil. Na sexta-feira, rumores indicaram que a Cosan poderia ser alvo da ADM.

As ações da Cosan chegaram a subir 6% por causa desses rumores de uma oferta. Ontem, mesmo com o fato relevante, as ações da Cosan fecharam em baixa de 3,94%. 'Foi uma operação de blindagem associada a um plano de crescimento. A estrutura societária não muda, mas a direção da Cosan dá um recado claro ao mercado: somos consolidadores', diz Marcos Paulo Fernandes Pereira, analista do Banco Fator.

A decisão de criar uma empresa num paraíso fiscal foi tomada depois de se avaliar a estrutura legal do país, já conhecida do investidor norte-americano. Agora, a nova oferta primária de ações deverá ocorrer no mês de agosto. A partir de julho, a direção da Cosan visitará os mercados para apresentar os novos papéis. Será quando os preços das ações começam a ser definidos.

Na Bolsa de Nova York, a holding deverá emitir ações. No Brasil, a oferta será de BDRs, equivalente das ADRs nos Estados Unidos. Segundo os analistas, excluído o peso para voto das ações classe A e B, o papel tem os mesmos direitos, como a exigência de oferecer aos acionistas minoritários o mesmo valor oferecido ao acionista controlador (tag along) e a distribuição de dividendos. Uma diferença que existirá caso Rubens Ometto ceda a uma oferta no futuro é o fim da relação de 10 votos para 1 entre estas duas classes de ações. O novo controlador perderá esta relação. 'Este é mais um ponto a indicar o desejo da Cosan de não ser comprada', explica Pereira.

Após da conclusão da oferta primária, a Cosan abrirá uma oferta para os minoritários que desejem migrar para as ações negociadas em Nova York e para a BDRs no Brasil. Isso acontecerá em setembro.