Título: BC vê menos riscos com investimento e importação em alta
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2007, Economia, p. B5

O crescente volume de investimentos e o aumento das importações, favorecidas pelo dólar barato, permitem que a economia brasileira cresça sem grandes riscos de alta da inflação. A avaliação foi feita ontem pelo diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Mário Mesquita, ao divulgar o relatório trimestral de inflação do banco.

'Se a demanda estivesse crescendo sem elevação dos investimentos, eu estaria preocupado. Com os investimentos em alta, continuo preocupado com os riscos, porque é tarefa de um banqueiro central, mas a preocupação é menor', disse ele.

O diretor explicou que os dois fatores (aumento de investimentos e de importações) têm pesado mais na evolução dos preços da economia do que o corte nos juros, que, por acelerar a atividade econômica, tenderia a pressionar os preços.

Mesquita tentou enfatizar a importância da condução da política monetária na trajetória de queda na inflação. Ele destacou que, se o setor externo fosse o único que estivesse pesando nos preços, a inflação não estaria mais alta na Venezuela e Argentina.

Segundo ele, a trajetória de valorização do câmbio no Brasil segue um movimento mundial. Mas ponderou que o melhor indicador para analisar a evolução do real é o câmbio real, que considera uma cesta de 15 moedas. Segundo Mesquita, por esse critério, o câmbio no Brasil está perto da média histórica, embora tenha se valorizado.

Para Mesquita, a alta nos preços das commodities - como soja e minerais metálicos -, ao elevar o saldo comercial, também induz a valorização da moeda brasileira.

O relatório de inflação do Banco Central afirmou que o aumento nos preços das commodities está relacionado à atividade econômica mundial, que está em ritmo 'robusto' de expansão, apesar da desaceleração nos Estados Unidos. 'A propósito, cabe destacar que a manutenção de taxas de crescimento em níveis historicamente elevados em diversas regiões tem levado a aumento nas pressões inflacionárias, notadamente no caso de matérias-primas e alimentos', disse o BC.

Para o Banco Central, no entanto, não se pode descartar uma redução mais forte na atividade econômica dos Estados Unidos. O risco estaria na piora do setor imobiliário. De outro lado, se o pior cenário nos Estados Unidos não se materializar, o BC considera que pode haver um fortalecimento da atividade econômica global que pode pressionar os preços das commodities.