Título: 'Estabilização definitiva só veio em 2005'
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2007, Economia, p. B4

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, qualificou ontem como 'extremamente precário' o esforço de consolidação da economia na época do Plano Real.

Segundo ele, o País era vulnerável a crises cambiais no período e apenas a partir de 2005 a economia alcançou uma 'estabilização definitiva'.

'Foi um esforço de estabilização extremamente precário, quase que uma falsa estabilização', comentou Coutinho, quando discursava no Clube de Engenharia, no Rio. O economista avalia que o País experimentou desvalorizações cambiais 'abruptas', que elevaram fortemente a inflação e obrigavam o Banco Central (BC) a elevar os juros básicos da economia, a taxa Selic.

Os juros altos, prossegue o economista, serviam para tentar neutralizar os picos inflacionários, mas 'derrubavam a economia'. Por isso, ele afirma que houve incapacitação para o crescimento naquele período. O Plano Real foi iniciado com o lançamento da nova moeda, com o mesmo nome, em julho de 1994.

'Podemos afirmar que estabilização definitiva da economia brasileira foi após 2005, quando a robustez cambial brasileira viabilizou uma estabilização da taxa de câmbio e um horizonte de médio prazo em relação à inflação e à taxa de câmbio', disse o economista.

Ele defende que, atualmente, já não há riscos de fortes desvalorizações, seguidas de pressão inflacionária. Disse, ainda, que isso é 'página virada enquanto mantivermos a robustez da taxa de câmbio, que eu espero que não seja desmanchada'.

A taxa de câmbio no País tem ficado num nível pouco acima de R$ 1,90. Na prática, o real tem se valorizado ante o dólar. Esse é um fator que tem contribuído para manter a inflação controlada. Como efeito colateral, o patamar de câmbio tem provocado críticas de setores que se dizem prejudicados por perderem competitividade nas exportações, como o têxtil e o de calçados.

Pela manhã, durante evento na Organização Nacional das Indústrias de Petróleo (Onip), Coutinho defendeu a necessidade de apoio a setores prejudicados negativamente pelo câmbio. 'Enquanto esse ciclo macroeconômico não se completa, com taxas de juros convergindo para um padrão internacional e o câmbio suavizando sua valorização, é preciso apoiar setores com problemas com o câmbio', argumentou.