Título: Rato diz que vai deixar o FMI em outubro
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2007, Economia, p. B8

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, anunciou ontem que vai deixar antecipadamente seu cargo na instituição, logo após a reunião anual do Fundo, em outubro. A decisão surpreendeu seus colegas no FMI. 'Não esperávamos que ele fosse embora assim de repente', disse um funcionário ao Estado. Em nota distribuída à imprensa, Rato afirmou que não poderia cumprir todo seu mandato no Fundo por 'motivos pessoais'.

Ele assumiu a direção do FMI em 2004 e deveria ficar até maio de 2009. Rato sucedeu o alemão Horst Kõhler como diretor-gerente. 'Minhas circunstâncias familiares e responsabilidades, particularmente a educação de meus filhos, são os motivos pelos quais terei de sair do Fundo antes do esperado', disse. Ele afirmou que vai esperar até outubro para que o conselho executivo tenha tempo para encontrar seu substituto.

Rato nega, mas se especula que ele vá voltar à vida política na Espanha - ele foi vice-primeiro ministro de José María Aznar e ministro da Economia - ou entrar para uma grande corporação.

A saída de Rato reabriu a discussão sobre a tradição de manter um europeu à frente do Fundo e um americano no Banco Mundial. 'Há vários nomes muito bons na América Latina, a começar por dois ex-presidentes, como o brasileiro Fernando Henrique Cardoso e o mexicano Ernesto Zedillo', disse ao Estado Claudio Loser, ex-diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI, que hoje é pesquisador do Diálogo Inter-Americano. 'Pedro Malan também tem prestígio nessas instituições e eu apoiaria Armínio Fraga de olhos fechados.' Malan coordenou o comitê que avaliou a relação entre o FMI e o Banco Mundial.

Outro nome que voltou a circular é o do egípcio Mohamed El -Erian, que era o presidente da Pimco (administradora de fundos que gerencia US$ 640 bilhões em recursos) e agora está à frente dos recursos do bilionário fundo de doações de Harvard. Na época da escolha de Rato, o nome de El-Erian já havia sido aventado como uma alternativa não-européia. Anteriormente, Caio Koch-Weser, um teuto-brasileiro que foi vice-ministro de Finanças da Alemanha, esteve cotado para substituir Michel Camdessus, mas enfrentou oposição dos EUA e acabou perdendo para Horst Kõhler.

O diretor-gerente afirmou que continuará comprometido com o avanço das questões de redistribuição das cotas do banco. Uma das reivindicações do Brasil é a reorganização do Fundo, para que países em desenvolvimento tenham mais poder na instituição. ' Rodrigo ajudou a fortalecer o Fundo ao criar um projeto de reforma da instituição, que irá permitir que o FMI continue uma instituição forte e relevante para o sistema financeiro global ', disse o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson.

Rato é a segunda baixa nos altos escalões de instituições multilaterais em um curto período de tempo - Paul Wolfowitz anunciou há pouco mais de um mês que iria deixar a presidência Banco Mundial, após se ver forçado a renunciar por causa do escândalo envolvendo a promoção de sua namorada, Shaha Riza. Seu sucessor, Robert Zoellick, assume amanhã.

O momento turbulento ressalta a necessidade de reforma das instituições, que vêm perdendo relevância, diz Loser. Rato tinha à frente o grande desafio de reorganizar o Fundo em uma fase de crise, em que os maiores devedores, como Brasil e Argentina, pagaram antecipadamente suas dívidas, e o Fundo está com dificuldades de se financiar.

FRASES

Rodrigo de Rato Diretor-gerente do FMI

'Minhas circunstâncias familiares, particularmente a educação de meus filhos, são os motivos pelos quais terei de sair'

Claudio Loser Ex-diretor do Fundo

'Há vários nomes bons na América Latina (para substituí-lo)'.