Título: 'Não houve consulta. Foi um trator', diz petista
Autor: Madueño, Denise e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2007, Nacional, p. A4

A decisão da Executiva Nacional do PT de obrigar os deputados do partido a votar a favor da lista fechada de candidatos provocou uma rebelião interna dos parlamentares contrários à proposta. Um grupo de cerca de 30 deputados anunciou que votaria contra a regra e, para evitar a punição, encaminharia um recurso ao Diretório Nacional contra a determinação.

Enquete feita na bancada petista, com 82 deputados, mostrou que 45% são contra a lista fechada e 55%, a favor. Os contrários tentaram convencer a Executiva a liberar o voto, mas acabaram vencidos.

¿A Executiva do PT tem apenas quatro deputados e a maior parte é formada por pessoas criadas na burocracia do partido. Por isso, a Executiva é a favor da lista fechada, de entregar a decisão à burocracia do partido, retirando do eleitor o poder de decidir¿, protestou o deputado Carlos Zarattini (SP). Ele criticou o fato de os integrantes da Executiva terem tomado a decisão sozinhos,sem ouvir as bancadas: ¿Não houve consulta. Foi um trator.¿

Outro ponto combatido pelo deputado é o artigo que prevê lugar garantido na primeira lista fechada para quem já tem mandato. ¿A primeira lista fechada vai repetir o resultado da última eleição. É a grande isca para os deputados votarem a favor, é a prorrogação garantida do mandato. É a maior indecência que pode haver. Mas a Executiva se negou a ser contra isso¿, frisou. Coube ao líder da bancada petista, Luiz Sérgio (RJ), e a outros deputados favoráveis à lista fechada a tarefa de tentar acalmar os ânimos.

SAÍDA NEGOCIADA

Diante da posição inabalável de alguns deputados contra a lista fechada, o PMDB buscou uma saída negociada, que evitasse tensão semelhante à dos petistas. Uma votação interna, com 81 dos 93 deputados da sigla, mostrou que 67% eram a favor da lista e 33%, contrários.

A solução encontrada pelo líder Henrique Eduardo Alves (RN) foi encaminhar o voto a favor, mas permitir os votos contrários na bancada. Além disso, propôs uma regra permitindo que os insatisfeitos com a composição das listas apresentem recurso à direção do partido.

Na votação, 86% dos deputados peemedebistas mostraram ser a favor do financiamento público de campanha - outro tema questionado - e 14%, contra. ¿Eu queria interpretar o sentimento exato da bancada, a vontade soberana dos parlamentares¿, justificou Alves.

Entre os deputados contrários à lista fechada, muitos eram do Rio, onde o partido é dominado pelo ex-governador Anthony Garotinho. O temor de alguns parlamentares fluminenses é de que a lista fechada no Estado dê prioridade aos correligionários de Garotinho.

`OMISSÃO¿

No encontro do PSDB, que reuniu 50 dos 57 deputados, o alvo preferencial de boa parte dos tucanos foi a direção nacional e o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE). Muitos deputados reclamaram que o comando partidário se eximiu da discussão e criticaram, ainda, a ¿omissão¿ dos senadores.

¿Perdemos uma grande oportunidade de fazer a discussão, de ouvir todas as bases do partido. Como o presidente do partido está no Congresso, acha que a discussão vale para todo o País, mas não vale. É um erro de avaliação. Este seria o momento de fortalecer e ouvir a militância¿, afirmou o deputado Luiz Carlos Hauly (SC).

Embora metade dos tucanos seja a favor da lista fechada, a bancada decidiu encaminhar voto contra, sob o argumento de que prefere manter a bandeira histórica do voto distrital misto - metade dos parlamentares sendo eleita por distritos dentro de cada Estado e a outra metade sendo eleita pelo sistema de lista. Boa parte dos tucanos favorável à lista fechada aceitou o argumento dos demais e passou a apoiar a posição da bancada.