Título: Dúvidas ainda rondam escândalo
Autor: Scarance, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2007, Nacional, p. A7

Diversas dúvidas rondam as denúncias envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desde o dia 28, quando ele fez um discurso para se defender no Senado. A principal divergência é sobre a origem dos R$ 8 mil mensais que ele repassou de janeiro de 2004 a novembro de 2005 para a jornalista Mônica Veloso, destinados à pensão de uma filha, hoje com três anos. Além desse valor, ela recebia R$ 4 mil para o aluguel de um apartamento em área nobre de Brasília.

Renan e o lobista Cláudio Gontijo, da Construtora Mendes Júnior, intermediário dos pagamentos, consideram o caso esclarecido. Falam em depósitos bancários feitos com valores originários dos próprios rendimentos do parlamentar. Seu advogado garante que os extratos de suas contas bancárias comprovam que o senador disse a verdade. Mônica, porém, contesta essa versão.

De acordo com a denúncia e com uma entrevista da própria Mônica, publicada no último fim de semana, o pagamento era sempre em dinheiro - ela apanharia os R$ 12 mil com Gontijo, no escritório da Mendes Júnior em Brasília. ¿Cláudio me recebia na sala dele e me entregava o envelope. Alguns envelopes tinham o logotipo da Mendes Júnior¿, contou ela, à revista Veja.

Renan afirmou que o lobista era conhecido de Mônica, motivo pelo qual ele foi escolhido para intermediar os repasses, após o fim da relação. A jornalista, novamente, nega - assegura que conheceu o lobista por meio do senador e diz que, antes mesmo do fim da relação, já pegava o dinheiro na Mendes Júnior.

Outro ponto de divergência é sobre valores. Renan assumiu a paternidade da filha em dezembro de 2005, quando passou a ser descontada na sua folha de pagamento uma pensão de R$ 3 mil. Por meio do advogado, Mônica diz que a filha continuou recebendo R$ 8 mil.

GADO

Segundo outra denúncia, veiculada na semana passada, o senador teria apresentado uma declaração retificadora do Imposto de Renda - após o caso vir à tona - para comprovar com mais facilidade que tinha recursos suficientes para pagar a pensão e o aluguel. Ele teria incluído duas fazendas e parte dos rendimentos com lucros presumidos com atividade rural.

O presidente do Senado buscou um ofício junto ao secretário da Receita, Jorge Rachid, para negar qualquer mudança na declaração do IR.

Ontem, a divulgação de um levantamento sobre a atividade rural do senador, pelo jornal Folha de S. Paulo, voltou a levantar suspeitas. Na sua defesa, Renan teria informado uma rentabilidade com gado incompatível com a realidade do País.

Alagoas era considerada ¿zona de risco¿ de febre aftosa, mas mesmo assim Renan declara ter obtido lucro maior do que pecuaristas de São Paulo. A taxa de fecundidade do seu gado também está acima da média.

O senador sempre negou qualquer relação com a Mendes Júnior - a construtora também. O presidente do Senado não comentou, diretamente, as acusações de que a Mendes Júnior deixaria à sua disposição um flat no hotel Blue Tree e de que o lobista Gontijo faria doações para ele e aliados, sem declarar.

Já contestou, porém, outras duas denúncias - ele negou ter fazendas em nome de laranjas em Murici (AL) e ter tomado qualquer atitude em favor de outra construtora, a Gautama, investigada pela Operação Navalha da Polícia Federal.