Título: Para Lula, imprensa inibe turismo por só dar notícia ruim
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2007, Nacional, p. A9

Ao lançar ontem o Plano Nacional de Turismo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a imprensa. Disse que os meios de comunicação só noticiam coisa ruim - fato que desestimula as pessoas a sair de casa, na opinião dele. ¿O que a gente vê de bonito na imprensa brasileira? Não tem¿, afirmou ele, em discurso de improviso.

¿Se fala de Pernambuco, é morte, se fala do Ceará é morte, se fala da Bahia, é morte. Ou seja, ele fala: peraí, eu não vou sair daqui não, vou ficar dentro de casa. E ainda olha se tem uma fresta pra não vir uma bala perdida¿, continuou.

Lula também recomendou aos governadores para que divulguem seus Estados em outras partes do País: ¿Tem de botar propaganda do Acre em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Não basta ficar falando bem do Acre dentro do Acre. Os acreanos já sabem.¿

Nesse ponto do discurso, o presidente voltou suas baterias contra o Ministério Público e a oposição: ¿Agora, se fizer isso vão dizer que estão gastando dinheiro. E lá vai o Ministério Publico fazer um protesto, já vai um deputado da oposição criticar.¿ E acrescentou: ¿Neste País ainda há um tipo de gente que precisa ter muita desgraça para poder existir.¿

A censura do presidente Lula à ação da imprensa não é novidade. Ele já repetiu várias vezes que os jornais só gostam de ¿coisa ruim¿, agem como ¿ave de mau agouro¿ e passam o tempo todo apegados a ¿denuncismos¿.

Mas não foram só ataques verbais. Em dois momentos seu governo já tentou criar limitações à liberdade expressão. O primeiro foi apresentação da proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo.

O governo chegou a enviar o projeto â Câmara, alegando que o objetivo seria ¿orientar, disciplinar e fiscalizar¿ o exercício da profissão e atividade de jornalista. Houve forte reação da sociedade à proposta e o governo acabou recuando.

Mas não desistiu: a segunda tentativa veio com outro projeto, de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav). Ela teria poderes para regulamentar e controlar atividades no cinema, na TV, rádio e outras modalidades de comunicação audiovisual.

Mais uma vez a sociedade reagiu, causando novo recuo.

Também se falou na dificuldade de Lula com a liberdade de expressão no episódio de Larry Rohter, correspondente do New York Times. Em maio de 2004, três dias depois da publicar uma reportagem afirmando que o consumo de bebidas pelo presidente estava afetando sua capacidade de governar, Rohter teve seu visto de jornalista cancelado pelo governo. O caso teve repercussão internacional e Lula, de novo, recuou.