Título: Executiva do DEM pede que senador se afaste
Autor: Samarco, Christiane e Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Nacional, p. A5

O DEM veio a público ontem cobrar que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se afaste do cargo enquanto for alvo de processo no Conselho de Ética. Reunida no início da noite, a Executiva Nacional do partido decidiu insistir formalmente no licenciamento de Renan, até que as investigações do caso sejam concluídas, ¿em toda a sua extensão¿. O parlamentar é acusado de ter contas pessoais pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior.

Em nota oficial divulgada ao final da reunião, a direção nacional do DEM deu respaldo público à atuação do líder no Senado, José Agripino Maia (RN), e do representante do partido no Conselho de Ética, Demóstenes Torres (GO). O texto - assinado pelo presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ) - endossa a cobrança dos dois senadores no que se refere ¿à nomeação imediata de relator para o processo disciplinar¿ movido contra o presidente da Casa.

¿O Democratas mostrou que não aceitará nenhum tipo de manobra no Conselho de Ética e entende que o melhor caminho é o afastamento de Renan da presidência, até para que ele possa se dedicar à sua defesa¿, disse o presidente do partido. Para Maia, era importante adotar posição bem clara sobre as acusações que pesam contra o presidente do Congresso, ¿maculando a imagem da instituição¿, e as denúncias contra o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), ¿que são igualmente graves e merecem célere e justa apuração¿. Roriz foi flagrado em grampo falando de suposta partilha de R$ 2,2 milhões.

Na reunião, os dirigentes do DEM frisaram que não se tratava de tomar posição contra Renan, mas de ¿mostrar à sociedade¿ que a legenda será ¿implacável¿ na cobrança de explicações e também no julgamento de Renan e de Roriz. Para mostrar que não se trata de ato anti-Renan, o primeiro item da nota foi em defesa do ¿amplo direito de defesa¿, considerado tão indispensável quanto a efetiva investigação das denúncias e a apuração de responsabilidades.

A decisão do DEM deve ter reflexos no conselho, que se reúne hoje. Cautelosa ao longo do processo, a oposição deve reagir às críticas de que tem sido omissa e entrar em confronto com a tropa de choque que tenta absolver Renan.

O DEM e o senador Jefferson Péres (PDT-AM) tentam ofuscar a articulação de Renan para desvincular o processo a que responde dos trabalhos do Senado. Péres propôs a obstrução das votações, enquanto não as investigações não prosseguirem. Para o pedetista, agir de forma diferente, seria concordar que há normalidade na Casa. ¿E não há, o clima no Senado é de anormalidade¿, alegou.

A posição dos tucanos será decidida em reunião marcada para as 10 horas de hoje. O líder Arthur Virgílio (PSDB-AM) antecipou esperar ¿que todos saiam de cabeça erguida e em paz com a consciência¿. Ele espera que a crise seja resolvida ¿sem atropelo à democracia¿.

RESISTÊNCIA

A hipótese de pedir licença até que tudo seja explicado tem sido cogitada até por aliados de Renan. Até agora, porém, o presidente do Senado resiste com veemência. Entre seus aliados de peso, está o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende sua permanência à frente do Congresso, embora publicamente não se manifeste.