Título: Coaf só soube de saque de Roriz após fiscalização
Autor: Expedito Filho e Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Nacional, p. A6

O Banco de Brasília (BRB) só comunicou ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) o saque de R$ 2,2 milhões em favor do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) uma semana depois que o Banco Central iniciou o procedimento de fiscalização no banco, a pedido do Ministério Público do Distrito Federal. A retirada em espécie ocorreu no dia 13 de março, mas só foi relatada ao Coaf no dia 19. Nesse período, segundo investigadores, fiscais do BC foram avisados pelos promotores e, para não despertar a atenção de dirigentes do BRB, suspeitos de envolvimento nas fraudes, informaram à instituição que faziam uma operação de rotina.

Para a equipe técnica que apura o caso, o saque foi oficialmente informado às autoridades porque dirigentes do banco perceberam que ele certamente cairia no pente-fino dos fiscais do BC. Pela lei de combate à lavagem, os bancos são obrigados a comunicar em 24 horas qualquer saque ou depósito em espécie acima de R$ 100 mil.

Além de levantar suspeitas, a desobediência a essa norma é considerada falha grave, com punições que vão da advertência à inabilitação temporária do dirigente responsável, com possibilidade de cassação da autorização para funcionamento da instituição.

Procurado, o BC não quis comentar o episódio. Informou, por sua assessoria, que ¿não se pronuncia sobre quaisquer eventuais atividades da área de fiscalização porque são protegidas pelo sigilo bancário¿.

EMBRIÃO

Na versão de Roriz, os R$ 2,2 milhões tiveram o seguinte destino: R$ 271 mil foram usados na compra de um embrião de gado nelore; R$ 28,6 mil repassados a Benjamin Roriz, sobrinho do senador, e o resto, R$ 1,9 milhão, devolvido ao empresário Constantino de Oliveira, conhecido como Nenê, que teria emprestado o dinheiro.

O Ministério Público do DF iniciou uma investigação para checar se os R$ 271 mil foram usados na compra do embrião, como disse Roriz. Os detalhes da transação ainda não foram repassados pelo Coaf.

Ainda que ela tenha ocorrido conforme o relato do senador, os investigadores não acreditam que seja uma justificativa robusta para a retirada, superior em oito vezes ao valor da suposta compra.

Além disso, conforme especialistas consultados pelo Estado, o saque de R$ 2,2 milhões foi feito de forma incomum. O BRB concordou em pagar por um cheque de alto valor de outra instituição financeira (no caso, o Banco do Brasil) nominal ao empresário, emitido pela Agropecuária Xingu, de propriedade de Nelson Schneider.

De acordo com informações da assessoria de Constantino, o empresário não é cliente do BRB. Normalmente, os bancos preferem que o cheque seja depositado e só disponibilizam os recursos após a compensação, com garantia de fundos.

Além disso, os bancos costumam exigir que saques elevados em dinheiro vivo sejam previamente informados pelos clientes, já que envolvem disponibilidade de numerário, chamado tecnicamente de provisionamento.

Pela lei de combate à lavagem de dinheiro, o provisionamento também deve ser informado ao Coaf. Os promotores e policiais que acompanham o caso estão verificando todos esses detalhes.

Constantino, presidente do Conselho Administrativo da Gol Empresa de Transporte Aéreo, reafirmou que recebeu R$ 2,2 milhões, ¿proveniente da venda de uma fazenda de sua propriedade para a Agrícola Xingu¿. Ele também disse que o dinheiro serviu para um empréstimo para Roriz ¿em forma de contrato de mútuo e emissão de nota promissória de março de 2007¿.