Título: Lula e Serra trocam gentilezas durante solenidade em SP
Autor: Oliveira, Clarissa e Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Nacional, p. A9

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), considerado a menina dos olhos do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornou-se a justificativa para mais um passo da aproximação entre o presidente e seus adversários políticos. Depois de já ter trocado elogios com o governador mineiro, Aécio Neves (PSDB), Lula aproveitou o lançamento de obras de saneamento e habitação do programa para pedir a união de forças com o governador paulista, José Serra, também tucano.

Serra e Lula estiveram juntos ontem no Palácio dos Bandeirantes, para anunciar os investimentos que serão destinados especificamente ao Estado de São Paulo. Além de conversarem quase ininterruptamente enquanto outras autoridades discursavam, tanto o presidente quanto o governador dedicaram boa parte de seus discursos para propor uma ação conjunta em benefício do País.

¿Todos nós sabemos que em 2010 tem disputa política, todos nós sabemos que poderemos estar em times diferenciados, dentro da mesma arena disputando. Mas todos nós temos que ter grandeza¿, disse Lula, que foi acompanhado dos ministros Márcio Fortes (Cidades) e Dilma Rousseff (Casa Civil). ¿O que estamos fazendo hoje é dizendo para o povo brasileiro: confie, que a classe política vai ter o mínimo de compromisso, e o máximo de decência, de perceber que a eleição acabou.¿

Serra, que discursou logo antes, foi pela mesma linha. ¿Hoje, no governo, eu tenho dito que eleição é uma coisa, mas no exercício do governo eu sou do partido de São Paulo e trabalho, nesse sentido, com todas as forças políticas. A reunião de hoje aqui é um exemplo disso. Estamos trabalhando juntos, governo estadual, governo federal e municípios, por São Paulo e pelo Brasil¿, disse, elogiando os esforços da administração Lula. ¿É muito bem-vinda essa ação coordenada. Entrosar a área federal, estadual e municipal tem uma importância muito especial.¿

Lula disse ainda que a parceria entre governo federal e estadual é ¿um exemplo que pode ser seguido¿. ¿Muitas vezes uma obra não acontece porque o político que não está no governo não quer que você faça obra naquele Estado por que vai favorecer o seu amigo¿, enfatizou o presidente. ¿Essa pequenez política só traz um resultado: é mais pobreza para este país, é menos desenvolvimento para este país.¿ E, sem citar nomes, ele afirmou que seu empenho em se aproximar de governadores de oposição reflete o fato de já ter ¿vivido na pele¿ a experiência de ter uma relação ruim com um governador.

GUERRA DE NÚMEROS

Apesar do empenho de Lula e Serra em mostrar que estavam com discursos perfeitamente alinhados, as assessorias de imprensa dos dois lados deixaram claro que a sintonia não é tão grande quando o assunto são os números do convênio assinado ontem. No início do evento, o Planalto distribuiu comunicado destacando que destinaria cerca de R$ 5 bilhões a São Paulo. Com contrapartidas do Estado e de municípios, o investimento saltaria para R$ 7,8 bilhões.

Já o governo paulista soltou uma nota dizendo que o protocolo envolvia investimentos de apenas R$ 2,1 bilhões. E ressaltou que o governo estadual arcaria com ¿a maior parte dos recursos¿, sendo R$ 600 milhões em financiamentos e R$ 512 milhões em recursos próprios. Em meio à confusão, o Planalto divulgou novo material, em que corrigia o valor de R$ 7,8 bilhões para R$ 7,3 bilhões, e informava que o Estado e os municípios investiriam R$ 1,82 bilhão e R$ 605 milhões, respectivamente.

Mais tarde, a ministra Dilma justificou a confusão, alegando que os números divulgados pelo Palácio do Planalto consideravam parcerias firmadas diretamente com diversas prefeituras. ¿Nós incorporamos também os municípios que não estão computados nos números do Estado¿, afirmou Dilma.

Feitas as contas, dos R$ 7,3 bilhões de investimentos previstos para obras de saneamento e habitação pelo PAC no Estado, 72% (R$ 5,2 bilhões) devem ser pagos pelos cofres da administração estadual e dos municípios - é a soma das contrapartidas do Estado, das prefeituras e de financiamentos federais a serem contratados pelas cidades e empresas estatais paulistas.

Do Orçamento da União está prevista a aplicação de somente R$ 2,1 bilhões, 28% do total.