Título: Financiamento de campanha pode também ser misto
Autor: Madueño, Denise e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Nacional, p. A11

A forte rejeição do eleitor ao financiamento público de campanha e ao sistema de votação em lista fechada, revelada em pesquisa de opinião da CNT/Sensus divulgada ontem, jogou água fria nos partidos que defendem a aprovação, hoje, da proposta de reforma política. Os líderes que patrocinam uma alternativa ao projeto do relator, Ronaldo Caiado (DEM-GO), decidiram, na noite de ontem, buscar uma nova saída, desta vez com o financiamento misto de campanha. Seria a alternativa ao financiamento público exclusivo, considerado incompatível com o sistema de lista flexível, em que o eleitor vota no partido, mas também tem a opção de votar em um candidato de sua preferência.

Pela proposta discutida ontem, que ainda depende da concordância do PT, as campanhas eleitorais passariam a ser financiadas com recursos da União e também com contribuições de pessoas físicas e jurídicas. O dinheiro público financiaria as campanhas majoritárias (prefeito, governador e senador) e as campanhas nas listas fechadas para eleições proporcionais (vereador, deputado estadual, distrital e federal, escolhidos pelos partidos). O dinheiro privado financiaria as campanhas individuais dos candidatos proporcionais. A votação da reforma política está marcada para hoje, mas os líderes ainda tentarão costurar um acordo para aprovação das novas regras, em reuniões marcadas para esta manhã.

A tentativa de buscar uma nova proposta, além das duas que já estavam em discussão, surgiu depois de uma reunião entre representantes dos seis partidos que, na sexta-feira, apresentaram uma emenda alternativa ao projeto de Caiado. PT, PMDB, DEM, PC do B, PPS e PSB decidiram fazer uma última tentativa de chegar a uma proposta que tivesse a concordância do relator. ¿Cada um está abrindo mão de parte de suas convicções para votar um sistema de transição¿, disse o líder do DEM, Onyx Lorenzoni (RS).

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), manteve a votação para a sessão de hoje, mesmo com a divisão dos deputados e a insegurança sobre o que será aprovado. ¿Como tem muita divergência, estou preparado, digamos, para iniciativas regimentais que atrasem as votações e acentuem as disputas. Isso é normal. Mas vai votar¿, afirmou Chinaglia. Ele disse esperar que a Casa produza um sistema melhor do que o atual. ¿Não é possível que a sociedade, a imprensa, os congressistas, todos fiquem falando `somos favoráveis a uma reforma política¿ e depois não queiram decidir.¿

A pesquisa CNT/Sensus mostrou que 46,8% - menos da metade dos 2 mil entrevistados em 136 municípios de 24 Estados - têm acompanhado ou ouviram falar na reforma política em discussão na Câmara. Da parcela que tomou conhecimento da reforma, 75,2% são contra financiamento público de campanha, e só 18,7% são a favor.

Resultado semelhante foi registrado no caso do sistema de votação na chamada lista fechada: dos que ouviram falar da reforma política, 74% são contrários a essa proposta e 16,5% são a favor.