Título: 'Ações da Terceira Via já são comuns'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Internacional, p. A14

Após dez anos, a Grã-Bretanha tem hoje uma economia próspera, desemprego em queda e 3 milhões de novos postos de trabalho. Então, por que a população britânica está desencantada com o sr. e muitos se mostram contentes com sua saída do cargo?

Venci três eleições e o que acontece quando você está no poder por um longo período de tempo é que as pessoas ficam cansadas da mesma fisionomia, da mesma voz. É isso que acontece.

Não seria por causa da guerra no Iraque?

Sei que as pessoas têm uma péssima impressão no caso do Iraque. Quando você assume uma tarefa como essa, toma decisões que as pessoas não gostam. Se consegui sobreviver no poder por dez anos, o desempenho foi bom.

Nos anos 90, o sr. promoveu a Terceira Via como o caminho moderno na direção da social-democracia, na Europa e EUA. O blairismo fracassou fora da Grã-Bretanha? Pelo contrário. Não chamo isso de blairismo. A Terceira Via é o que muitos governos - conservadores ou progressistas - buscam hoje no mundo industrializado. O que acho interessante é que algumas das antigas distinções de direita e esquerda já não são mais tão importantes. Sei que em alguns lugares é impossível defender o presidente George W. Bush, mas se você examinar o que ele tem feito, por exemplo, quanto à política de imigração nos EUA, ou com a política comercial, percebe que ele está do lado progressista do debate - porque é um homem aberto e não um isolacionista. Acho que, hoje, algumas das políticas da Terceira Via - combinando eficiência econômica e justiça social, educação e desregulamentação, reforma do serviço público e eficiência - são posições muito comuns em todo o mundo desenvolvido.

Ao olhar para trás, o sr. não acha que o Iraque foi o grande pesadelo do seu mandato?

Veja, nós não chegaremos a um acordo nesta questão.

Não é importante, ao começar uma guerra, pelo menos vencê-la?Bom, não acho que a perdemos.

O sr. está seguro disso?

Sim, tenho certeza. Precisamos continuar e vencê-la, mas agora é um tipo diferente de conflito. Eliminar Saddam Hussein foi relativamente fácil, mas depois os terroristas se instalaram ali, como aconteceu no Afeganistão. Precisamos estar preparados para um conflito a longo prazo porque nossos inimigos vão nos combater.

O sr. acha que seria mais fácil vencer a guerra ou o período pós-guerra?

A única coisa que posso dizer é que subestimamos muito o problema (do pós-guerra) tanto no caso do Taleban, no Afeganistão, quanto no de Saddam, do Iraque.

A ação no Afeganistão e no Iraque não ajudou inadvertidamente a disseminar o terrorismo?

Esse se tornará um grande mito no Ocidente se não tivermos cuidado. Não criamos essas pessoas. E não é falha nossa o fato de elas serem como são. Elas possuem uma crença, uma ideologia e descobriram o poder do terrorismo numa era de globalização e comunicação de massa.