Título: Blair troca governo por diplomacia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Internacional, p. A14

Após dez anos como primeiro-ministro britânico, Tony Blair está prestes a assumir mais um desafio. Blair, que deixa hoje o cargo, deve ser o novo enviado do Quarteto de Madri (formado por EUA, Rússia, União Européia e ONU) para o Oriente Médio.

Apesar de ainda não ser oficial, a nomeação de Blair era tida como certa ontem. Uma fonte do governo americano disse que membros do Quarteto concordaram em Jerusalém em nomear o premiê britânico.

O representante da UE, Mark Otte, afirmou, no entanto, que a confirmação dependia da aprovação do governo russo. Segundo ele, o representante da Rússia pediu para consultar o Kremlin antes de aprovar a nomeação. Otte, que alertou que o acordo ainda não estava fechado, confirmou que o anúncio oficial deve ser feito hoje.

Blair deu ontem claros indícios sobre seus novos rumos profissionais. Durante uma coletiva em Londres, afirmou que ¿qualquer pessoa que se preocupa com paz e estabilidade no mundo sabe que uma solução para a questão palestino-israelense é essencial. Em várias ocasiões disse que farei o necessário para ajudar no assunto¿.

A nomeação de Blair, no entanto, causou polêmica, já que muitos analistas acreditam que ele não é popular no mundo árabe. Aliado dos EUA na guerra do Iraque, Blair é visto como amigo íntimo de Bush, odiado na região. O porta-voz do grupo radical palestino Hamas, Fawzi Barhmoum, afirmou que o britânico não é bem-vindo, pois apoiou ¿o terrorismo da ocupação sionista e massacres contra o nosso povo¿.

Caso as previsões se confirmem hoje, Blair enfrentará uma situação ainda mais complicada no conflito entre israelenses e palestinos, após a divisão da Faixa de Gaza e Cisjordânia entre Hamas e Fatah. O último representante do Quarteto, James Wolfensohn, renunciou em 2006 ao cargo - menos de um ano após sua indicação - frustrado com a falta de resultados nas negociações.

DESPEDIDA

Tony Blair participa hoje de sua última sessão no Parlamento britânico, antes de entregar o cargo a Gordon Brown, seu ex-ministro das Finanças. Após apresentar sua renúncia à rainha Elizabeth, Blair deve viajar para o distrito de Sedgefield, que o elegeu deputado, onde também deve renunciar ao cargo na Câmara dos Comuns.

Blair, que se reuniu ontem com o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, deixa para trás dez anos de governo marcados pela reforma no serviço público no país, o acordo de paz na Irlanda do Norte e o apoio aos EUA na invasão do Iraque.

Carismático e energético, Blair é apontado por analistas como o primeiro-ministro que conseguiu recolocar a Grã-Bretanha entre os principais líderes da política mundial.