Título: Hamas varre Fatah de Gaza
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2007, Internacional, p. A16
Combatentes do movimento radical islâmico Hamas capturaram ontem várias posições das forças de segurança ligadas ao partido laico Fatah na Faixa de Gaza, tomando o controle de praticamente todo o território. Apenas na Cidade de Gaza o Fatah oferecia maior resistência. Pelo menos 33 pessoas morreram ontem, elevando a 81 o número de mortos desde a retomada dos combates, no sábado. Apesar dos confrontos, milhares de moradores saíram às ruas da Cidade de Gaza para pedir o fim do que qualificaram de guerra civil. Homens armados abriram fogo contra os manifestantes, matando dois e ferindo quatro.
À noite, o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, líder do grupo radical, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, do Fatah, divulgaram um comunicado conjunto pedindo que todas as partes ¿suspendam a luta e retornem à linguagem do diálogo e do respeito pelos acordos¿, informou a TV palestina. Mas a rádio do Hamas negou que os dois líderes tivessem acertado mais uma trégua - várias delas foram declaradas e ignoradas desde o início da disputa. Abbas qualificou a luta interna de ¿loucura¿.
Durante a tarde, numa demonstração de força, o Hamas deu um ultimato de dois dias às forças de segurança leais ao Fatah para que deponham armas e entreguem as bases em Gaza. O Fatah, por sua vez, deu um prazo de 12 horas para seus rivais cessarem os ataques no território.
Na Cidade de Gaza, militantes do Hamas atacaram com granadas de morteiro e disparos de fuzis os três principais complexos das forças de segurança, exigindo a rendição dos membros do Fatah. Na segunda-feira, os radicais capturaram o QG da força de segurança no norte de Gaza.
Em uma dramática vitória para o Hamas, cerca de 300 homens de um poderoso clã familiar da Cidade de Gaza, aliado ao Fatah, se renderam aos militantes radicais depois de dois dias de intensos combates.
O Hamas, que dominava ontem grande parte do norte de Gaza e a principal estrada norte-sul, capturou a cidade de Khan Yunis, no sul (na qual explodiu a sede local do Fatah) , e disse ter tomado o controle da fronteira com o Egito em um assalto coordenado a Rafah. Horas antes, mais de 40 membros das forças de segurança cruzaram a fronteira em busca de refúgio no Egito e se entregaram aos guardas egípcios.
O temor de ampliação do conflito para a Cisjordânia começou a concretizar-se. Militantes do Hamas e do Fatah entraram em choque em Nablus, no norte da Cisjordânia. A luta começou quando militantes das Brigadas Mártires de Al-Aqsa, braço armado do Fatah, invadiram uma produtora de TV do Hamas e seqüestraram 12 pessoas.
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, pediu aos países árabes que intervenham para resolver a crise palestina e se pronunciou a favor do envio de uma força internacional ao sul de Gaza, para evitar o tráfico de armas através do Egito. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse estar considerando o envio de uma força internacional a Gaza depois de Olmert e do presidente palestino terem apresentado a idéia. A União Européia disse que poderá integrar essa força.
Olmert deixou claro que Israel não pensa em intervir no conflito palestino, mas advertiu que se Gaza cair nas mãos do Hamas haverá uma grande repercussão regional.