Título: Líderes perderam o controle, dizem analistas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2007, Internacional, p. A16
O conflito entre o partido laico Fatah e o religioso Hamas está fora de controle. A sensação ontem nas ruas de Gaza era de que nem mesmo se Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e líder do Fatah, desfilasse de mãos dadas com Ismail Haniyeh, primeiro-ministro e líder do Hamas, a violência seria contida.
¿Os militantes do Hamas e do Fatah já não respondem mais a seus líderes¿, disse de Washington, por telefone, ao Estado, o presidente da Fundação para a Paz no Oriente Médio, o ex-embaixador americano Philip Wilcox. ¿Só não se trata de uma guerra civil clássica porque Abbas e Haniyeh não apóiam abertamente o conflito. Contudo, eles também não conseguem contê-lo¿, afirmou Wilcox.
Segundo ele, no momento não há solução política para o impasse entre Hamas e Fatah. ¿A única saída seria uma reconciliação entre os dois partidos, que estão próximos de ultrapassar um ponto que não tem mais volta.¿
Efrain Inbar, professor de estudos políticos na Universidade Bar-Ilan, de Tel-Aviv, diz que o resultado mais grave de uma vitória do Hamas é a islamização de Gaza. ¿Seria uma péssima notícia para todos os vizinhos que tentam conter seus próprios combatentes islâmicos, principalmente o Egito¿, disse Inbar ao Estado, referindo-se à repressão do governo secular egípcio aos militantes da Irmandade Muçulmana. ¿Não vejo solução política de curto prazo. A relação entre Hamas e Fatah é a igual a um casamento ruim sem a possibilidade de divórcio¿, afirmou.
Outra conseqüência de uma vitória do Hamas seria a possibilidade de o conflito se espalhar para Israel e Cisjordânia. Entretanto, os analistas descartam a hipótese de a violência ir além de Gaza. ¿As fronteiras de Israel estão bem guardadas e impediriam esse cenário. Quanto à Cisjordânia, o Hamas tem pouca representatividade na região, que é um reduto do Fatah, diminuindo as chances de um confronto¿, disse Wilcox.
Segundo ele, a divisão do movimento palestino foi uma política perseguida pela diplomacia ocidental, principalmente pelo governo de Israel. ¿A lógica seria enfraquecer Hamas e Fatah, mas o que estão conseguindo é apenas inviabilizar um Estado palestino e alimentar a instabilidade na região.¿
Para o analista palestino Mouin Rabbani, do International Crisis Group, no momento a única organização que poderia oferecer resistência ao avanço do Hamas seria outro partido fundamentalista. ¿Por incrível que pareça, a maior ameaça ao Hamas hoje seria a Al-Qaeda¿, disse Rabbani, que alerta para o surgimento de pequenos grupos jihadistas em Gaza, como o Exército do Islã, que seqüestrou o jornalista da BBC Alan Johnston, em março.