Título: Ocupação prejudica bolsas e Fuvest
Autor: Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2007, Vida&, p. A20

A ocupação por 42 dias da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) paralisa processos de concessão de bolsas a alunos, impediu a criação de 200 vagas na Fuvest e interrompeu o início de um novo programa informatizado de matrículas, entre outros prejuízos. A invasão tem deixado sem acesso documentos importantes, em papel ou em arquivo de computador, de todas as pró-reitorias e de outros departamentos que funcionavam dentro do prédio.

Ontem, um dia após os alunos terem votado pela primeira vez um ¿indicativo de fim da desocupação¿, a falta de comunicação contribuía para o impasse. Nesta semana, o pró-reitor de Pós-Graduação, Armando Corbani Ferraz, pediu aos estudantes para entrar em sua sala em busca de papéis que garantiriam a viagem de 42 alunos que farão estágios no exterior. Os estudantes não deixaram. Eles argumentam que só permitem a entrada de Corbani se a reitoria voltar a pagar bolsas de assistência estudantil para alunos carentes.

Mas, até esse processo, segundo a USP, foi atingido pela ocupação. ¿Não podemos deixar todo mundo entrar, se não perde todo o sentido a ocupação. A reitoria poderia fazer uma lista dos documentos que precisa e ai liberamos¿, garante o aluno de História Diogo Campanhã, que faz parte do movimento.

Uma das estudantes prejudicadas é Juliane Guimarães de Carvalho, de 33 anos, que espera aflita seus documentos serem liberados na reitoria para que possa pedir o visto de entrada nos Estados Unidos, onde fará parte da sua pesquisa de doutorado em Odontologia. Ela viajaria em julho; já adiou a viagem para agosto, mas ainda não sabe se vai poder embarcar. ¿Estou desesperada. Minha tese depende dessa viagem¿, diz.

Rejane Fukushima, de 28 anos, também aluna de doutorado em Odonto, não tem resposta sobre uma bolsa-auxílio que pediu para custear sua participação em um congresso na Dinamarca. Faltam 20 dias para o evento e Rejane não pôde sequer comprar a passagem. ¿É o mais importante congresso da área, meu trabalho foi escolhido para ser apresentado lá, não posso perder¿, reclama Rejane.

Segundo o pró-reitor de Pós-Graduação, sua equipe está tentando refazer toda a folha de pagamento de bolsas que precisa ser mandada para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), órgão federal que regula e concede os benefícios. ¿Muitas vezes não sabemos sequer os nomes dos estudantes que seriam beneficiados porque as listas estão todas nos nossos computadores¿, diz Corbani.

Ele ainda lembra que há cursos de pós, como o de Odontologia do campus de Bauru, que estão com seu processo de reformulação parado na reitoria. ¿Mudamos o formato, atendendo a critérios de avaliação, e agora não podemos nem receber novos alunos¿, conta a professora responsável, Maria Aparecida Machado.

FUVEST

Os problemas se estendem à área de graduação. Segundo a pró-reitora Selma Garrido Pimenta, 200 vagas em novos cursos ou em cursos já existentes da USP não puderam ser votadas. O único curso novo que foi aprovado antes da ocupação foi o de Direito no campus de Ribeirão Preto. ¿Pelo cronograma do vestibular, não tem mais jeito de essas vagas entrarem neste ano¿, diz ela.

A ocupação também impediu que a USP inaugurasse um programa inédito que permitiria aos alunos fazer matrículas, pedir histórico escolar ou acompanharem sua situação de créditos pela internet. O programa estava em estudo havia três anos e começaria em toda a universidade neste mês.

Ainda há dezenas de processos de estágios curriculares, com pagamento de bolsas aos alunos, que também não puderam ser efetivados porque não há acesso aos documentos. E centenas de outras bolsas para programas de iniciação científica, além de verbas para reequipamento de laboratórios que não puderam ser liberadas. ¿São prejuízos em cascata¿, diz Selma.

CRONOLOGIA

3 de maio Invasão da reitoria Após assembléia, 200 alunos invadem a reitoria em protesto contra decretos de José Serra

8 de maio Início da negociação A reitora Suely Vilela aceita negociar e não punir invasores

15 de maio Justiça Com fim do prazo para desocupação, Suely vai à Justiça pedir a reintegração de posse

16 de maio Greve Estudantes se recusam a receber a ordem de reintegração de posse e entram em greve. Os funcionários também param

21 de maio Pedidos atendidos Aumentam as reivindicações. Reitora aceita atender apenas a alguns pedidos

22 de maio Polícia ameaça Reitora atende mais reivindicações. Polícia ameaça prender quem desobedecer à Justiça, mas nada acontece

23 de maio Paralisação geral Professores das três estaduais também param

31 de maio Decreto declaratório José Serra publica um decreto declaratório em que explica os decretos anteriores e reafirma a autonomia das universidades. Estudantes e polícia se enfrentam em manifestação perto do Palácio dos Bandeirantes

4 de junho Limite Suely Vilela afirma aos alunos que não tem mais nada a oferecer em troca da desocupação da reitoria

6 de junho Contra a ocupação Primeiro protesto, com passeata, Hino Nacional e abraço ao relógio, contra a ocupação

12 de junho Indicativo Em assembléia, alunos votam a favor de um `indicativo de desocupação¿, mediante reabertura de negociação.