Título: Mantega: '4,5% evita pé no freio'
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Economia, p. B3

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, enquanto permanecer reduzindo a taxa básica de juros, a Selic, o Banco Central (BC) pode perseguir objetivos abaixo do centro da meta de inflação, fixada em 4,5% até 2009. Mantega acha que a Selic pode ser gradualmente reduzida até o nível em que corresponda à taxa básica norte-americana, os Fed Funds, mais o risco Brasil.

'Esse é o limite natural', disse Mantega, observando que captações de empresas brasileiras avaliadas como AAA em reais no mercado internacional, com juros de 8,6%, já estão próximas desse nível mínimo. 'É um equívoco o mercado achar que eu quero um pouco mais de crescimento a custo de mais inflação', disse Mantega, ao Estado.

Na verdade, o objetivo não é turbinar a economia para que dispare além do atual nível de crescimento, que, na avaliação dele, já está em torno de 4,5%. 'Nós já alcançamos a velocidade de cruzeiro e isso não vai gerar inflação, na minha opinião. Acho melhor crescer entre 4,5% e 5% ao longo de vários anos do que ter ciclos explosivos', disse o ministro.

O problema da definição da meta, continuou Mantega, é que, no sistema brasileiro, convencionou-se que o centro da meta é importante, especialmente se a inflação ameaça se desgarrar para cima. Hoje, as expectativas de inflação estão em 3,6% para 2007 e em 4% para 2008 e 2009.

Mantega observa que, se os modelos econométricos do BC indicarem, no caso de um evento qualquer, que a inflação esperada será acima do centro da meta, 'a tendência é puxar o freio'. Assim, se a meta em 2008 ou 2009 fosse de 4% e os modelos indicassem um inflação de 4,3%, haveria uma inclinação no BC para interromper os cortes da Selic.

Para o ministro, a manutenção da meta em 4,5% é 'uma medida de segurança, uma válvula de escape para alguma perturbação, algum evento inesperado, que evite que o crescimento seja abortado'. Ele acrescenta, porém, que, 'se o BC puder fazer uma inflação menor, é óbvio que isso vai acontecer'.

Assim, não é por querer acelerar o crescimento à custa de mais inflação que Mantega defendeu a meta de 4,5% para 2009. A razão foi evitar que um pequeno repique ocasional leve, nos próximos anos, a outro penoso ciclo de aperto da política monetária e de interrupção do crescimento.

Por outro lado, o ministro acha que a manutenção do centro da meta em 4,5% pavimenta o caminho para a continuidade da redução da Selic. Isso ocorre porque o BC não interromperá o movimento ou elevará a taxa, se houver um eventual repique que não ultrapasse os 4,5%. Mesmo que isso ocorra, ele raciocina, o BC deverá continuar reduzindo a Selic porque a inflação ainda estará abaixo do centro da meta.

Mantega considera que parte dos economistas do mercado financeiro que criticaram a meta para 2009 'segue a cartilha na qual sempre se deve manter algum aperto na política monetária, algo meio por dever de ofício'. Ele acrescentou que quem faz a relação entre mais crescimento e mais inflação são os economistas conservadores. 'Nós conquistamos a feliz situação de mais crescimento com inflação mais baixa', disse.

Ele observou que um crescimento muito acima de 5%, por outro lado, poderia levar a gargalos na infra-estrutura e provocar pressões inflacionárias: 'Um crescimento mais equilibrado dá tempo para que se aumente o investimento e a oferta.'

FRASES

Guido Mantega Ministro da Fazenda

'É um equívoco o mercado achar que eu quero um pouco mais de crescimento econômico ao custo de mais inflação. Se o BC puder fazer uma inflação menor, é óbvio que isso vai acontecer'

'Já alcançamos a velocidade de cruzeiro e isso não vai gerar inflação. Acho melhor crescer entre 4,5% e 5% ao longo de vários anos do que ter ciclos explosivos'