Título: Mercado preferia redução de meta
Autor: Chiarini, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Economia, p. B4

A decisão do governo de manter em 4,5% a meta de inflação para 2009 desagradou à maioria dos economistas ouvidos pelo Estado. Segundo eles, a meta deveria ter sido reduzida. Eles também consideram confusas e dúbias as declarações feitas pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao anunciarem a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN). Mas, dado o contexto, acharam positivo Meirelles ter mencionado que a inflação pode ficar abaixo da meta e vai perseguir 4% ao ano no longo prazo.

'Era melhor fixar a meta em 4% e não explicar nada', declarou o consultor de política monetária do Banco Itaú, Joel Bogdanski. Ele lembrou que as expectativas do mercado financeiro para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza a meta, estão em média em 4% até 2011, de acordo com a pesquisa semanal do BC com instituições financeiras.

A economista-chefe da Mellon Investments, Solange Srour Chachamovitz, observou que, 'se o discurso fosse de que é necessário perseguir o centro da meta, isso teria um impacto negativo nas expectativas de inflação, já que elas estão em 4% para o IPCA de 2008 e as expectativas afetam a inflação'.

No entanto, Solange considerou que o discurso do governo 'é dúbio porque diz que, com a meta de 4,5%, a política monetária terá mais flexibilidade'. De acordo com ela, se o BC for perseguir a inflação de 4% em 2009, não há espaço para mais flexibilidade, pois as expectativas para inflação em 2008 já estão em 4%. A maior flexibilidade, assim, poderia se traduzir em maior inflação.

O coordenador de Análises Econômicas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), Salomão Quadros, receia justamente que a decisão de manter a meta em 4,5% para 2009, ano em que provavelmente a inflação já estará abaixo disso por três anos consecutivos (2006, 2007 e 2008), leve à interpretação de que o BC praticaria uma política monetária compatível com o aumento da inflação.

Para ele, essa interpretação levaria a um aumento das expectativas de inflação. 'Isso seria muito ruim. Ao menos o presidente do BC explicitou que não é assim', observou Quadros.

Para o economista sênior do Dresdner Kleinwort, Nuno Camara, a decisão foi negativa. ' O CMN perdeu uma boa oportunidade de ancorar as expectativas num nível mais razoável, especialmente num período em que a inflação está baixa', disse. 'O BC não deve alterar a sua estratégia por causa dessa meta.'

CIESP E FIRJAN

Camara argumentou que a manutenção da meta em 4,5% poderá eventualmente ter um efeito contrário ao desejado. 'Isso pode passar a impressão aos mercados de que o governo está disposto a tolerar um pouquinho de inflação em troca de um maior crescimento', disse.

'É provável que isso cause uma elevação da curva local de juros, pois um pouquinho de inflação hoje pode acabar virando ainda mais inflação amanhã e, portanto, taxas de juros mais altas', concluiu Camara.

O diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, considerou que a manutenção da meta em 4,5% é 'um passo importante para flexibilizar a política econômica contracionista, que levou o País a um longo período de estagnação'.

O empresário disse esperar a continuidade de uma política de desenvolvimento baseada não apenas no consumo, como vem ocorrendo, mas principalmente no estímulo aos investimentos. 'O Ciesp espera que haja continuidade na redução da Selic, que se faça uma reforma tributária verdadeira, capaz de reduzir o peso dos impostos sobre a produção e um esforço maior para conter a excessiva valorização do real'.

Já a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) lamentou: 'O Conselho Monetário Nacional perdeu a oportunidade de sinalizar uma trajetória cadente para a inflação.'

FRASES

Joel Bogdanski Consultor de Política Monetária do Banco Itaú

'Era melhor fixar a meta em 4% e não explicar nada'

Solange Chachamovitz Economista-chefe da Mellon Investments

'(O discurso do governo) é dúbio, porque diz que, com a meta de 4,5%, a política monetária terá mais flexibilidade'

'As expectativas afetam a inflação'