Título: Sob pressão do câmbio, indústria cresce só 3%
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2007, Economia, p. B6

O resultado do PIB do primeiro trimestre jogou um balde de água fria na indústria. O desempenho do setor ficou abaixo da média geral da economia - cresceu 0,3% em relação ao trimestre anterior e 3% ante os três primeiros meses de 2006. O câmbio é apontado como principal responsável pelo resultado.

O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, mostrou-se especialmente preocupado com o desempenho da indústria de transformação, que cresceu abaixo da média da própria indústria (2,8% ante o primeiro trimestre de 2006). Para ele, a situação é desanimadora e fruto de um 'seriíssimo problema cambial', que tira a competitividade da indústria. 'O mundo vai crescer a uma média de 5% neste ano e os emergentes, de 7%. Mas a indústria de transformação brasileira está muito abaixo disso', diz Skaf.

A valorização do real ante o dólar não é a única fonte de insatisfação. Para Skaf, há outros entraves de ordem mais estrutural. 'A indústria não deslancha também porque, além de estabilidade econômica, é preciso que haja uma grande meta no que se refere à desburocratização, às reformas tributária, política, previdenciária e trabalhista, ao barateamento dos processos e à velocidade na queda dos juros', diz.

O presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, afirmou que vai reduzir as expectativas de crescimento. Ele apontou o câmbio e o ritmo da queda de juros como vilões do crescimento econômico . 'O resultado ficou abaixo do esperado e refletiu, em grande medida, os desdobramentos da política econômica', diz Godoy, em nota.

O presidente da Abdib reconheceu a melhora na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), um indicador de investimento, mas lamentou que parte desse resultado tenha sido alcançado pela importação de máquinas e equipamentos.

Cálculo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostra que as importações tiveram impacto negativo de dois pontos porcentuais no PIB. Não fosse o aumento das compras no exterior, o crescimento da economia como um todo teria sido de 6%.

'De fato, a produção industrial vem crescendo para acompanhar o consumo das famílias. Mas, se a demanda fosse por bens internos, o PIB seria maior', observa o economista-chefe do Iedi, Edgard Pereira, que não se mostrou surpreso com os números.

QUEIXAS

Paulo Skaf Presidente da Fiesp

'O mundo vai crescer a uma taxa média de 5% neste ano e os países emergentes, de 7%. Mas a indústria de transformação brasileira está muito abaixo disso. É preciso fazer reformas e dar maior velocidade à queda dos juros'

Paulo Godoy Presidente da Abdib

'O resultado ficou abaixo do esperado e refletiu, em grande medida, os desdobramentos da política econômica'.