Título: Cresce insatisfação do Paraguai com o bloco
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2007, Economia, p. B9

O Mercosul, causador de conflitos comerciais internos dos mais variados gêneros, agora pode ser chamado de 'bananeiro'. Desde o fim de semana, empresários, políticos e líderes de opinião do Paraguai reclamam dos bloqueios que grupos de argentinos fazem na fronteira entre os dois países para impedir a entrada de caminhões transportando bananas paraguaias.

O bloqueio argentino - contra o qual o governo do presidente Néstor Kirchner nada fez - suscitou a ira dos produtores de banana do Paraguai, que exigem que o governo do presidente Nicanor Duarte Frutos retire o país do Mercosul caso o conflito não seja resolvido.

O confronto começou na sexta-feira passada, quando seis caminhões procedentes do Paraguai foram bloqueados por piquetes de produtores argentinos na cidade de Clorinda, principal ponto de acesso para o território argentino das cargas provenientes de Assunção.

Os problemas se arrastavam desde o dia 4 de junho, quando o bloqueio às bananas paraguaias foi ordenado pelo governo argentino, que aplicou restrições sanitárias temporárias contra o produto.

Mais de 25 mil caixas de bananas paraguaias apodreceram em território argentino por causa das restrições. O bloqueio irritou o senador paraguaio Silvio Ovelar, que afirmou no Parlamento em Assunção que 'o Mercosul foi criado para colocar ponto final nesse tipo de arbitrariedades e obstáculos comerciais'. Os senadores paraguaios anunciaram que denunciarão os obstáculos impostos pela Argentina no Parlamento do Mercosul (Parlasur).

ICEBERG

O conflito bananeiro, surgido na véspera da cúpula, é a ponta do iceberg da decepção paraguaia com o Mercosul. Nos últimos dois anos, diversos setores políticos e empresariais indicaram que o país nada ganhou com o bloco comercial e pedem que o país faça um acordo de livre comércio com os Estados Unidos.

O jornal ABC Color - o principal do Paraguai - publicou um editorial no qual aconselha que os produtores 'amontoem bananas podres na frente dos presidentes na Cúpula do Mercosul'. Segundo o jornal, o Mercosul 'é um retumbante fracasso, especialmente para os sócios menores'. O ABC indica que o Mercosul não tomou as medidas para garantir 'o tão falado livre comércio, que, sem dúvida, é o fundamento de prosperidade e progresso dos povos. O Mercosul se transformou em um organismo político que serve ao Brasil e à Argentina para afirmar sua liderança'.

Alberti Soljanic, presidente da Associação Rural e da Federação para a Indústria e Comércio, foi categórico: 'O Mercosul é uma farsa. O setor empresarial paraguaio não esperava nada dessa cúpula, um encontro de líderes hipócritas'.