Título: Pressão do governo derruba CPI da Navalha
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2007, Nacional, p. A6

O governo conseguiu enterrar a CPI destinada a investigar corrupção e fraudes em licitações para obras públicas executadas pela Construtora Gautama. Ao conferir todas as assinaturas dos deputados no pedido de criação da CPI, a Mesa do Congresso concluiu que havia apenas 169 válidas, 2 a menos do que o mínimo exigido, de 171 - um terço dos deputados, conforme exigência regimental. No Senado, foram obtidas 30 assinaturas, 3 a mais do que as 27 necessárias.

Apesar de não ter conseguido o apoio necessário, a CPI da Navalha - como ficou conhecida, por causa da Operação Navalha da Polícia Federal -, não foi ainda arquivada. Por decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a Mesa do Senado vai aguardar até terça-feira para ver se surge alguma nova assinatura a favor da comissão.

O nome de Renan aparece em algumas das escutas telefônicas feitas pela PF. Como é parte envolvida, ele não quis determinar o arquivamento imediato da CPI, para evitar críticas à sua atuação.

Um grupo de deputados protocolou o pedido de CPI quarta-feira, mas eles mesmos não tinham muita esperança de que fosse criada, por causa da oposição do governo. A comissão também não teve apoio de deputados da Bahia e de Sergipe, por causa da suspeita levantada pela PF de envolvimento do deputado Paulo Magalhães (DEM-BA) e do ex-governador sergipano João Alves Filho no suposto esquema. 'a CPI da Navalha nasceu natimorta', admitiu na própria quarta-feira o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos que protocolaram o requerimento na mesa.

DURO

O governo jogou duro e impediu que seus deputados assinassem o requerimento para as investigações. Os alertas contra a comissão foram dados principalmente pelo PT. O líder do partido na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), chegou a avisar que, se fossem abertas investigações, o governo teria muitas dificuldades para aprovar os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), visto que envolve licitações e obras. E o líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE), conversou com cada um dos parlamentares da base para convencê-los a não apoiar as investigações.

Quando os partidos de oposição entregaram as assinaturas para a CPI, na quarta-feira à tarde, anunciaram ter apoio de 172 deputados. Mas nem isso conseguiram. De acordo com a secretária-geral do Senado, Cláudia Lyra, foram entregues 202 assinaturas, das quais 31 repetidas. Portanto, válidas eram 171.

Mas a do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) não conferiu, derrubando os apoios para 170. Ele disse que errou e enviaria à Mesa nova assinatura. Além disso, ontem à tarde Lindomar Garçon (PV-RO) enviou à Mesa requerimento de retirada de sua assinatura, o que reduziu a lista para 169. O mesmo fez Edmar Moreira (DEM-MG). Mas, aí, o cuidado foi excessivo, pois Moreira nem assinara o pedido de CPI.