Título: À moda de Antonieta
Autor: kramer, Dora
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2007, Nacional, p. A8

Foi abissal, embora nem de longe tenha sido a maior já pronunciada por habitantes da Esplanada dos Ministérios e adjacências, a tolice dita pela ministra do Turismo, Marta Suplicy, ao aconselhar os passageiros de avião a relaxar e aproveitar sabe-se lá exatamente o quê diante de vôos atrasados, aeroportos entupidos, viagens canceladas, compromissos perdidos, férias comprometidas e paciências esgotadas.

Inclusive porque ela não seguiu o próprio conselho quando se viu numa situação de urgência e prejudicada pela crise aérea em seus propósitos profissionais.

Dias antes de assumir o ministério, chegou atrasada a uma reunião com o presidente Luiz Inácio da Silva depois de passar horas no aeroporto de Congonhas e comentou com rispidez os atrasos. Ali Marta tinha razão, reagiu como qualquer um. Aqui, foi apenas frívola.

Marta pediu desculpas, mas o fez por cálculo a posteriori sobre possíveis danos políticos a seus projetos eleitorais. Já a exortação ao consumo de brioches ante a carência de pão resultou de genuína e espontânea frivolidade.

Agora, uma coisa é pontuar sua absoluta falta de sensibilidade, a outra é cobrar sua demissão. É perda de tempo, pois o presidente Lula não se constrange com nada, nem em manter no cargo uma ministra da Igualdade Racial que considera o racismo de negros contra brancos como algo absolutamente natural e até justificável.

Pretender que Marta deponha na CPI do Apagão Aéreo é outro gesto oco, típico de quem não dá aos acontecimentos a dimensão exata. A ministra acrescentaria mesmo o quê à comissão de inquérito, se não tratou em sua declaração do mérito?

Marta Suplicy vocalizou de maneira exacerbada e inapropriada a indiferença desde o início da crise patente no governo para com as desventuras do passageiro de avião.

Se nem o ministro da Defesa ou o comandante da Aeronáutica são capazes de esclarecer coisa alguma a respeito do assunto em pauta, que dirá a ministra do turismo, sexóloga, feminista, a quem a primeira frase que ocorre para comentar crise aérea guarda relação com uma piada de quinta categoria sobre o estupro se a agressão se apresenta inevitável.

Risco-fisiologia

Demorou, mas os deputados em geral e o PMDB em particular puderam enxergar com clareza o custo de determinadas negociatas fisiológicas.

Leonardo Picciani, presidente da Comissão de Constituição e Justiça, atropelou solenemente o regimento interno ao permitir a votação de uma proposta de rejeição ao projeto de reforma política.

Preocupado em atender à solicitação de favores, o deputado ignorou a impossibilidade de examinar na comissão projeto já em processo de votação no plenário.

Quando sustentou a escolha do deputado Leonardo Picciani para a presidência da comissão permanente mais importante da Câmara, o PMDB buscou apenas atender às conveniências locais do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, aliado do presidente da Assembléia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, pai de Leonardo.

Inexperiente e grato, o moço presta serviços aos padrinhos sem observar as normas. Age como soldado da tropa de choque governista, em detrimento da compostura e do conhecimento de causa.

Agora exagerou e até o PMDB já percebeu o erro de origem.

Na rede

Lambari, pintado ou tubarão, Genival da Silva só caiu na rede porque era peixe. Ou o presidente Lula teria sugerido em sua classificação dos espécimes que os menores devem ser devolvidos ao mar (de lama)?

Fato é que o presidente da República teria se poupado desse constrangimento se há dois anos, quando a revista Veja revelou que Vavá se dedicava à exploração do parentesco para obtenção de benefícios financeiros, tivesse cuidado de impor padrões de conduta mais rígidos ao irmão, no lugar de desqualificar a notícia invocando 'respeito' à sua família.

Com o gesto, ofertou ao néscio (na definição presidencial) a salvaguarda de inimputável. Como parece menos ingênuo do que se quer fazer crer, Vavá captou a mensagem e foi em frente.

Fato e ficção

'O quê a gente vê de bonito na imprensa brasileira? Se fala de Pernambuco é morte, se fala do Ceará é morte, se fala da Bahia é morte. Ou seja, ele fala: peraí, eu não vou sair de casa, vou ficar aqui. E ainda olha se tem uma fresta para não vir uma bala perdida', disse Lula em defesa do modo Poliana de lidar com fatos.

Seguida a receita do presidente da República para 'vender' o País lá fora, quando o turista for morto a facadas na rua, a imprensa estrangeira dirá que o Brasil, sem contraditório, não é um país sério.

E, no que tange a determinadas excelências, não é mesmo. Mas pelo menos tem massa crítica.