Título: Discussão da reforma produziu distorções
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2007, Nacional, p. A9

Um é a favor, mas vota contra. Outro é contra, mas vota a favor. A discussão da proposta sobre o sistema de lista fechada produziu distorções como essas, além das rebeliões internas nos partidos. Na noite de quarta-feira, durante sessão da Câmara que tentava dar início à votação da reforma política, os deputados baianos Jutahy Junior (PSDB) e Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), adversários no Estado, eram o exemplo perfeito da distância entre a convicção pessoal e o voto partidário.

Jutahy é antigo defensor da lista fechada, sistema em que o eleitor vota numa relação feita pelo partido e não mais em seu candidato preferido. O tucano acredita que essa é a única saída para o financiamento público de campanha, que proíbe contribuições de pessoas físicas e jurídicas. Na Bahia, onde na política predomina a família de ACM Neto - na figura do avô e senador, Antonio Carlos Magalhães -, os tucanos têm dificuldade para obter contribuições privadas. Jutahy defende a lista fechada por achar que fortalece as siglas e barateia campanhas. No entanto, na terça-feira, o PSDB decidiu que seria contra a idéia, defendida por DEM, PT, PC do B e parte do PMDB.

'Não havia ambiente para fazer mudança desse impacto sem fazer uma reforma mais profunda. Veja que a mídia está contra, que a imagem passada para o eleitor é a de que ele vai perder o direito do voto direto, de escolher o candidato que achar melhor. Eu me convenci de que o melhor neste momento é o PSDB defender uma reforma mais profunda, com mudanças constitucionais', explicou Jutahy.

Na verdade, tucanos avaliaram que o desgaste de defender proposta aparentemente impopular e encampada pelo PT não compensava, embora o relator do projeto, Ronaldo Caiado (GO), seja do oposicionista DEM.

No sentido contrário está ACM Neto. Deputado mais votado da Bahia, com quase 437 mil votos, ele tem, além do avô, tios e primos na política. É beneficiado pela tradição familiar e teria o primeiro lugar garantido na lista do DEM baiano. Ele, porém, prefere o sistema atual. 'A gente sabe que a elaboração de listas partidárias não é fácil, que muitos partidos têm donos', comentava no plenário na terça. 'Mas, como foi decisão do meu partido, vou apoiar a lista.'