Título: Especialistas divergem sobre voto em lista
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2007, Nacional, p. A9

Além de não unir o Congresso ou os partidos, a idéia de implantar no Brasil o voto em lista fechada ainda está longe de obter consenso entre especialistas. Alguns cientistas políticos defendem a manutenção do atual sistema, no qual o eleitor vota diretamente no candidato de sua preferência. Mas há quem insista em que a idéia de o voto ser concedido à legenda, com base em uma lista de candidatos pré-ordenada, seria fundamental para fortalecer os partidos.

'É preciso amadurecer essa discussão', diz o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor da PUC-SP e da FGV. 'Eu temo essa perspectiva de que mudar a lei vai mudar comportamentos.' Ele avalia que, considerando a cultura eleitoral brasileira, o voto em lista prejudicaria a renovação de lideranças, além de trazer o risco de um fortalecimento excessivo das cúpulas partidárias.

Defensor do voto em lista fechada, o cientista político Fábio Wanderley Reis, da UFMG, insiste na mudança. 'Temos um problema de falta de consistência dos partidos. O voto em lista, que significa o voto no partido, é um instrumento nessa direção', afirma.

Para o professor da USP Aldo Fornazieri, o modelo ideal seria o de lista, desde que se crie um mecanismo democrático para a montagem da relação. 'A legislação deve definir uma regra de composição da lista, respeitando o princípio da proporcionalidade de grupos internos dos partidos. Isso evitaria que as cúpulas se apossassem da composição da lista.'

O cientista político Rubens Figueiredo, também professor da USP, diz que, se a lei não contemplar essa questão, o melhor é manter o atual modelo. 'Se essa lista for montada pelos caciques dos partidos, ela será uma lista viciada', afirma, sugerindo que ela seja definida por prévias internas nas legendas.

Diante do impasse da votação da reforma política na Câmara, ganha força a idéia de propor um modelo de lista flexível. O eleitor vota no partido e, em seguida, seleciona na lista o candidato de sua preferência. Outra possibilidade é permitir que o eleitor reordene a relação.

'Deixar uma margem de manobra ao eleitor é defensável', diz Wanderley. Mas, na avaliação de Teixeira, educar o eleitorado a lidar com esse sistema pode não ser uma tarefa simples. 'É uma alternativa. Mas há complicações, já que seria preciso alfabetizar o eleitor.'