Título: Compadre iria ao presidente para ajudar líder do grupo
Autor: Macedo, Fausto e Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2007, Nacional, p. A11

Dario Morelli Filho, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estava disposto até mesmo a pedir-lhe ajuda para tirar do submundo do crime o suposto chefe da máfia dos caça-níqueis, Nilton Cesar Servo. A informação consta do relatório final da Polícia Federal, documento de 105 páginas que esmiúça a ação dos investigados da Operação Xeque-Mate. O próprio Servo declarou, em depoimento formal, que Morelli se comprometeu a apoiá-lo na busca de atividades lícitas lançando mão do auxílio do amigo presidente.

Para citar mais uma vez o nome de Lula no relatório, a PF fez constar trecho do depoimento de Servo chamando a atenção para contradições do empresário dos caça-níqueis. Para os federais, Servo 'tinha consciência da ilicitude de suas atividades'.

O relatório registra a citação ao presidente, no depoimento de Servo: 'Tanto Dario Morelli não tem envolvimento que o mesmo já interpelou o interrogado em várias oportunidades no sentido de que parasse de mexer com o jogo de bingo, inclusive avisou que, se fosse o caso de o interrogado (Servo) passar a exercer outra atividade não tão perseguida como o bingo, poderia ajudar o interrogado em qualquer outra atividade, até mesmo falando para Luiz Inácio Lula da Silva no sentido de que o interrogado poderia trabalhar licitamente em parceria com outros empresários também em atividade lícita.'

Investigadores da Operação Xeque-Mate cruzaram dados que pudessem comprovar uma ligação direta entre o chefe da máfia dos caça-níqueis e o presidente. Chegaram a exibir aos suspeitos um álbum de fotos da família Servo em que Lula aparece de bermudas numa confraternização, posando abraçado ao empresário e seus filhos. O material foi usado por Servo em sua campanha, sem êxito, a prefeito de Bonito (MS), em 2004.

O advogado Eldes Martinho Rodrigues, que defende Servo e sua família, afirmou que a PF nunca o tratou como líder da organização criminosa. 'O grande exagero dessa operação foi a prisão da mulher e dos três filhos de Nilton', disse o criminalista. Os quatro foram soltos na quarta-feira. Apenas Servo ficou detido preventivamente.

Para o advogado, Servo só se tornou alvo da Xeque-Mate por causa de sua amizade com Morelli e com Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do presidente Lula. 'Não há sequer indícios de prática criminosa que possa ser imputada a Nilton e seus familiares', sustenta o advogado. Rodrigues entende que Servo deveria ter sido solto 'pois também tem condições legais de responder em liberdade'.