Título: BC diz que aumento das importações permitiu queda de 0,5 ponto no juro
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2007, Economia, p. B1

O crescimento acelerado das importações, impulsionado pelo dólar barato, tem permitido o atendimento de uma demanda do mercado interno mais aquecida, sem que ocorram, até o momento, pressões inflacionárias. Esse foi o ponto central que fundamentou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), de baixar, na semana passada, a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual. De janeiro a maio deste ano, as compras externas do País cresceram 26,7% em comparação com igual período do ano passado.

A explicação consta da ata da última reunião do Copom, divulgada ontem. 'O crescimento das importações tem contribuído de forma fundamental para esse processo (de estabilidade dos preços), complementando a produção doméstica e, assim, permitindo que os efeitos inflacionários do crescimento sustentado da demanda agregada continuem sendo limitados', diz a ata.

Os integrantes do Copom alertaram, no entanto, para o fato de que a expansão 'a taxas robustas' da demanda interna poderá, no médio prazo, 'colocar riscos para a dinâmica inflacionária'. Esse alerta coloca em dúvida, embora não se descarte inteiramente, a continuidade de uma nova redução de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic na próxima reunião, em 18 de julho.

A tônica da ata do Copom foi a diferenciação entre os cenários externo e interno. Para os membros do Copom, 'o cenário externo continua favorável', a despeito da incerteza sobre a continuidade do forte crescimento da economia mundial, das elevações da taxa de juros em importantes economias e blocos econômicos e de certo aumento da volatilidade nos mercados globais.

Os dados referentes ao cenário interno mostram, segundo o Copom, uma 'tendência de crescimento robusto' da produção industrial, apesar da 'acomodação' registrada em abril. A ata lembrou que a indústria cresceu 6% em abril em relação ao mesmo mês do ano passado, a maior taxa de expansão, nesse critério de comparação, desde junho de 2005.

'Os diversos fatores de estímulo à atividade econômica, inclusive a flexibilização monetária já realizada, sugerem que a tendência da expansão da indústria deverá continuar nos próximos meses', observa o texto. A diretoria do BC também menciona a elevação do nível de utilização da capacidade instalada, que ficou em 81% na média do primeiro quadrimestre de 2007, frente 79,1% em igual período do ano passado.

'Essa dinâmica reflete a intensificação da atividade econômica e ocorre a despeito de dados relativos à produção e absorção de bens de capital, recentemente coletados, indicarem que a expansão dos investimentos permanece robusta', ressalta a direção do BC.

O documento observa que a trajetória da inflação está estreitamente relacionada às perspectivas de ampliação dos investimentos, ou seja, à oferta de bens e serviços para atender à demanda. 'Tendo em vista o comportamento recente das taxas de utilização da capacidade, a continuidade da expansão do investimento será fundamental para evitar descompasso relevantes no que se refere à evolução da oferta à demanda agregada.'

A ata chega a dizer que, no balanço dos riscos, os fatores externos e internos atuam em direções opostas. 'O setor externo, que vem atuando de forma importante para ampliar a oferta agregada, continua tendo influência predominantemente benigna sobre as perspectivas para a inflação, ao passo que o ritmo de expansão da demanda doméstica pode colocar riscos para a dinâmica inflacionário no médio prazo', observa o texto.

LUZ E GÁS

A análise da situação econômica feita pelo Copom está baseada, entre outras variáveis, na perspectiva de que não haverá aumento dos preços da gasolina e do gás de cozinha neste ano. Para a energia elétrica, a projeção do Copom passou de uma alta de 2,2% este ano para uma deflação de 0,9%. Para a telefonia fixa, houve uma ligeira queda na estimativa, de 3,4% para 3,3%.

O BC reduziu também a sua projeção para a alta nos preços administrados neste ano, de 4,2% na reunião do Copom de abril, para 3,6%. Essa previsão ainda está acima daquela feita no último Relatório de Mercado (elaborado com base nas projeções de instituições financeiras e consultorias), que foi de 3,2%. A ata informa que, no cenário de referência do BC, que considera taxa de câmbio constante em R$ 1,95 e taxa Selic em 12,5% ao ano, a projeção para a inflação reduziu-se em relação a abril e permaneceu abaixo da meta de 4,5% para este ano.

O RECADO DA ATA

Inflação sob controle: a maioria do Copom entendeu que o crescimento das importações, impulsionado pelo dólar barato, permitiu o atendimento da demanda interna mais aquecida e a 'manutenção de um cenário inflacionário benigno'. Esse foi o principal argumento para reduzir a taxa de juro em 0,5 ponto porcentual

Riscos: o Comitê alertou para o fato de que a demanda interna se expande 'a taxas robustas', o que 'pode colocar riscos para a dinâmica inflacionária no médio prazo'

Compensação: o Copom avaliou que fatores externos e internos sobre o balanço de riscos para a trajetória esperada de inflação atuaram em direções opostas. A forte demanda interna pressiona a inflação, enquanto o setor externo favorece uma trajetória mais benigna

Mundo: o Copom continua avaliando que o cenário internacional é favorável, mesmo ressaltando que não estão descartadas novas elevações de taxas de juros dos EUA, o que levaria a uma desaceleração mais forte da economia daquele país

Tarifas: a ata manteve a previsão de estabilidade nos preços da gasolina e do gás de cozinha. Para a energia elétrica, a expectativa passou de alta de 2,2% para uma deflação de 0,9%. Já para a telefonia fixa houve ligeira queda da projeção, de 3,4% para 3,3%

Parcimônia: mais uma vez o Copom afirmou que a flexibilização monetária (ou seja, queda da taxa de juro) precisa ser conduzida 'com parcimônia'.