Título: É o peso do fator externo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2007, Economia, p. B2

Desta vez a Ata do Copom trouxe surpresas. Uma delas é a de que o Banco Central tem à mão a chave para derrubar mais fortemente os juros. É só deixar que o chamado fator externo atue mais francamente no mercado interno.

A Ata do Copom é uma das peças pelas quais o Banco Central exerce o gerenciamento das expectativas, sem o que a política monetária (política de juros) perde eficácia. Implica fazer a cabeça do mercado para o que está para acontecer. Se estão convencidos de que o Banco Central controla o processo, os agentes econômicos não remarcarão preços acima do que a meta de inflação comporta, porque serão punidos com encalhe de produtos e perda de participação no mercado.

Além de mais bem redigida, esta Ata dispensou palavrório hermético ou empolado. Desta vez, por exemplo, não usa a expressão 'parcimônia' para designar redução do corte dos juros.

A principal novidade está nos parágrafos 22, 23 e 24. Lá foi esclarecida a divergência da última reunião, que determinou, por 5 votos a 3, um corte maior dos juros, de 0,5 ponto porcentual.

Os três votos vencidos, que defenderam corte de 0,25 ponto, se apegaram a dois argumentos internos: o de que há no juroduto gás monetário que ainda não produziu efeito sobre os preços; e o de que o consumo está tão robusto que ainda mais estímulos monetários elevariam o risco de gerar mais inflação.

Os cinco diretores do Banco Central que votaram no corte vencedor de 0,5 ponto entenderam que o comportamento do setor externo está tão bom que, por si só, tem condições de neutralizar um eventual risco de inflação.

Isso diz muita coisa. Diz que as condições globais são animadoras: a produção segue com boas perspectivas; apesar dos riscos, a inflação mundial está sob controle; o comércio vai crescendo fortemente; a liquidez continuará farta; a alta das commodities e do petróleo incomoda, mas não parece capaz de desestabilizar o jogo econômico.

Esse bom ambiente externo vai exercendo impacto positivo aqui dentro. O aumento das importações, por exemplo, está contribuindo mais do que já havia sido avaliado antes pelo Banco Central, para controlar a inflação. Isso tem a ver com a valorização do real diante do dólar, que não só estimula importações, mas também força o produtor nacional a trabalhar com preços mais baixos. E não dá para desprezar o impacto positivo de outra variável (que não está na Ata): a de que o grau de investimento vem aí.

A Ata não adianta o que pode acontecer nas últimas quatro reuniões do ano. Fica uma conclusão e uma conseqüência.

A conclusão, exposta no texto, é a de que as condições externas se tornaram decisivas na definição dos juros. Se mantidas, o afrouxamento tende a continuar.

E, agora, a conseqüência. O Banco Central não pode determinar as condições externas. Mas pode, em certa medida, abrir mais espaço para que atuem na economia e isso ajuda a cortar mais os juros. Se, por exemplo, deixar que o dólar fique onde está ou que continue rolando rampa abaixo, mais facilmente conseguirá assegurar a 'disciplina exercida sobre os preços de bens transacionáveis'. Bastará que compre menos dólares.