Título: PF entrega relatório com acusações a 3 deputados
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2007, Nacional, p. A12

A Polícia Federal enviou ontem ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, relatório com indícios de envolvimento de três deputados com a máfia das fraudes em obras públicas, desmantelada pela Operação Navalha. Um é Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os outros são Maurício Quintela (PR-AL) e Paulo Magalhães (DEM-BA), sobrinho do senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA).

Por meio de nota, Magalhães negou ter qualquer envolvimento com as irregularidades. Quintela disse que conhece o empresário Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama, pivô do esquema, mas jamais recebeu benefícios dele. Procurado em seu gabinete, Olavo Calheiros não foi localizado.

A PF baseou seu relatório na análise dos documentos apreendidos em maio, quando a operação foi deflagrada. Os dados relativos a Magalhães só seguirão na segunda-feira porque ontem foram identificados novos elementos contra ele que ainda dependem de checagem.

Caso considere consistentes os indícios de crime apurados pela PF, o procurador-geral pedirá abertura de processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Como deputados, eles têm direito a foro especial. Ao relatório de quatro páginas a PF anexou um CD com gravações de conversas envolvendo os três e documentos que mostrariam sua ligação com a quadrilha.

Se acatados pelo Ministério Público, os dados da PF abrirão espaço para a devassa patrimonial, bancária e fiscal de Olavo Calheiros, suspeito de ser chefe da quadrilha em Alagoas. Ele agiria por meio de um grupo de operadores de sua confiança, colocados em postos-chave do governo estadual desde a década de 90, sobretudo a Secretaria de Infra-Estrutura.

O esquema, segundo a PF, teria começado quando Olavo foi secretário de Infra-Estrutura (1994-1998), época em que a Gautama expandiu seus negócios em Alagoas. Ao sair, o deputado teria deixado no posto um aliado e os ocupantes do cargo nos governos seguintes seriam de sua confiança, inclusive o secretário Adeilson Bezerra, preso na Operação Navalha.

Segundo a PF, os operadores se empenhavam em ajudar a Gautama a conseguir contratos e teriam montado esquema de medições fraudulentas de obras não realizadas. Bezerra foi flagrado em escutas telefônicas acertando o recebimento de R$ 145 mil da empreiteira para liberar R$ 3,16 milhões pelo contrato da adutora do Pratagy, cujas obras foram paralisadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou irregularidades.