Título: Para PF, Vavá conversou com lula sobre máquinas caça-níqueis
Autor: Brandt, Ricardo e Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2007, Nacional, p. A20

Diálogo ocorreu no dia 9, depois da ação da polícia; irmão do presidente diz que falava de máquinas de terraplenagem

Uma ligação telefônica de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho de Lula, interceptada pela Operação Xeque-Mate no dia 9, às 8h02, revela que ele conversou pessoalmente com o presidente da República sobre máquinas caça-níqueis, segundo conclusão da Polícia Federal.

O telefonema gravado pela Inteligência da PF, que durou 9min58s, faz parte do último lote que os federais entregaram à Justiça. Ao todo são 17 diálogos captados pelo grampo, 9 deles antes da deflagração da Xeque-Mate, dois no dia da operação e seis após as prisões e a busca na casa de Vavá. Entre as 17 ligações listadas pela PF, duas são do irmão de Lula.

Na segunda ligação, a conversa é com o prefeito de Caetés, cidade natal de Lula, José Luiz de Lima Sampaio (PT), que se identifica como Zé da Luz, primo em terceiro grau de Vavá e Lula. O petista liga para a casa de Vavá, em São Bernardo do Campo, dia 9, cinco dias depois que a operação foi desencadeada. O irmão do presidente é acusado de tráfico de influência e exploração do prestígio, crimes que teria cometido, de acordo com a PF, dentro de um poderoso esquema de corrupção e exploração de caça-níqueis.

No grampo, Vavá explica a Zé da Luz, que ligou para se solidarizar com ele, que Lula esteve em sua casa no dia 25 de março, um domingo. ¿Sabe aquele negócio de máquinas, aquela conversa é o seguinte: o Lula veio aqui em casa, eu falei com o Lula, olha vou colocar o pessoal pra trabalhar. Eu vou fazer um relatório das máquinas, eu vou fazer, certo? Aí publicaram que o Lula que pediu... P... É uma brincadeira do c..., né bicho¿.

Na análise do grampo que enviou à Justiça Federal, a PF sustenta: ¿Vavá confirma que conversou com Lula sobre as máquinas (caça-níqueis) e teria dito na ocasião que `tem que colocar esse pessoal para trabalhar¿. Vavá afirma que ele, por iniciativa própria, iria fazer um `relatório¿ sobre as máquinas (caça-níqueis) e que a imprensa publicou erroneamente que `o Lula que queria saber das máquinas¿. Neste diálogo Genival Inácio da Silva, vulgo Vavá, esclarece ao primo de terceiro grau o que pretendeu dizer no diálogo que teve com Nilton César Servo no dia 25 de março de 2007 às 19:45:13¿.

Interrogado pelo delegado Antonio Carlos Knoll, que comandou a busca em sua casa, Vavá disse que conversou com Lula sobre máquinas de terraplenagem. Segundo Vavá foi ¿uma sondagem que fez para saber se havia possibilidade de colocar umas máquinas para trabalhar na empresa Vale do Rio Doce, o que foi negado pelo presidente, já que o mesmo não admite esse tipo de coisa¿.

Zé da Luz confirmou ontem ao Estado que a voz da gravação interceptada pela PF é dele. ¿Sou eu. Eu sempre falei com ele. Ele vem sempre a Caetés. Liguei para prestar minha solidariedade a ele.¿

Segundo ele, a última conversa entre eles havia sido um dia antes de ser deflagrada a Operação Xeque-Mate. ¿Conversamos sobre Caetés e como estão os amigos e a família. Foi no domingo antes da operação.¿

Zé da Luz também tem tido problemas com a Justiça. Em janeiro deste ano, ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral de Justiça de Pernambuco por fraude em licitação, desvio de verba pública e falsificação de documentos. O petista chegou a ter a prisão preventiva solicitada, mas foi negada pela Justiça. Na conversa com Vavá, ele cita o episódio para tentar acalmar o irmão do presidente. Ontem, defendeu o amigo. ¿Não é Vavá que fortaleceu essas máquinas de caça-níqueis. Todos sabem que tem isso há anos.¿

PAU-MANDADO

Um segundo contato de Vavá, que a Xeque-Mate flagrou, cita pela primeira vez Marisa Letícia, mulher de Lula, e incrimina ainda mais Dario Morelli Filho, amigo e compadre de Lula. Nessa conversa, Vavá afirma a um sobrinho que Morelli é sócio do empresário Nilton Servo, apontado como o líder da máfia dos caça-níqueis. Segundo relatório da PF, o sobrinho de Vavá comentou, referindo-se a Morelli: ¿Que ele era meio faz tudo da Marisa né? ... não era meio pau-mandado dela?¿.

A PF captou o diálogo entre Vavá e o sobrinho casualmente, porque o telefone da casa do irmão do presidente ficou fora do gancho. Isso ocorreu no dia 7, às 10h25, três dias após a Xeque-Mate sair às ruas. A conversa se arrastou por 10min38s. Os federais não identificaram o nome do sobrinho de Vavá.