Título: Frio volta e Kirchner raciona energia para indústrias
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2007, Economia, p. B11
Em três semanas, é a segunda vez que ele ordena redução de abastecimento
Mais uma vez, em menos de três semanas, os termômetros marcaram menos de 5°C na capital argentina e na Grande Buenos Aires, que concentra mais de um terço da população do país e a produção de metade do PIB argentino. E, de novo, as indústrias argentinas tiveram de reduzir a produção por causa da crise energética. O frio provocou uma disparada do consumo de energia, o que levou o governo do presidente Néstor Kirchner a ordenar às grandes empresas, na noite de quinta-feira, uma drástica redução do consumo de gás e energia elétrica.
A idéia do governo é poupar os consumidores residenciais das ordens de racionamento. Dessa forma, Kirchner tenta não irritar a população no meio de um ano de elevada tensão política, já que em outubro serão realizadas as eleições presidenciais do país.
Há três semanas o governo Kirchner, além do racionamento interno, ordenou a suspensão das exportações de gás para o Chile, país altamente dependente desse produto argentino. A perspectiva é que o racionamento poderá se prolongar até a noite de segunda-feira, já que somente a partir da terça estão previstas temperaturas mais elevadas na região.
Analistas e líderes da oposição criticam o governo Kirchner pela falta de um plano concreto para evitar a crise energética. Eles sustentam que a crise, que afeta a Argentina desde 2004, não está sendo enfrentada de forma séria. A oposição acusa o governo de tentar resolver a crise com medidas provisórias - que denominam ironicamente de 'band-aids' -, tais como a importação de gás da Bolívia, de energia elétrica do Brasil e de diesel da Venezuela.
Para complicar o cenário, nesta semana as hidrelétricas argentinas estão com baixa potência - o nível das represas diminuiu por causa da escassez de chuvas. 'A crise está se agravando e isso vai acabar em um colapso', afirma o especialista na área energética Emilio Apud.
O racionamento de gás está afetando setores variados, como as usinas de açúcar, indústrias de óleos vegetais, plásticos, entre outras. O setor automotivo preparou-se para a crise, que era uma ameaça concreta há três anos. Esse foi o caso da Ford, que, segundo seu presidente, Enrique Alemañy, reestruturou seus turnos de trabalho, de forma a poder aproveitar melhor a energia disponível. Além disso, a empresa conta com depósitos de gás equivalentes a 14 dias de produção.
CONGELAMENTO
A Secretaria de Energia da Argentina emitiu uma resolução que obriga as empresas de gás a garantir o abastecimento dos consumidores residenciais até 2011, além de subordinar a exportação à demanda interna. Assim, toda vez que faltar gás no mercado argentino, as exportações do produto para o Chile serão reduzidas.
A resolução também determina que os preços do gás para os consumidores residenciais deverão ficar congelados até 2008. No entanto, o governo determinou que as empresas de exploração de gás que aumentarem sua produção poderão elevar os preços do produto utilizado para automóveis.