Título: 'Não há disposição de levá-lo à guilhotina'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2007, Nacional, p. A4
Renan teria 9 dos 15 votos no conselho; fato novo pode virar jogo
Senadores da base aliada e de oposição apostam em que o Conselho de Ética vai determinar, em sessão marcada para terça-feira, o arquivamento do processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no qual é acusado de quebra de decoro parlamentar. A previsão é de que Renan escape ileso com pelo menos 9 dos 15 votos do colegiado, depois que a Polícia Federal der parecer pela autenticidade dos documentos que ele apresentou para justificar seus rendimentos e o pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso.
¿A situação do senador Renan melhorou no conselho. Não há predisposição para levá-lo para a guilhotina de qualquer maneira¿, afirmou o senador Renato Casagrande (PSB-ES). ¿Se essa perícia da Polícia Federal comprovar que todas as operações são explicáveis, tudo bem para o senador. Se para quem ele vendeu o gado usou nome falso, nome fantasia, isso não é problema do Renan.¿
A estratégia dos governistas e da oposição para absolver o presidente do Senado será baseada na perícia dos documentos que ele apresentou em sua defesa a ser feita pela Polícia Federal. O desfecho esperado principalmente pelos aliados de Renan, contudo, depende de não surgirem fatos novos que comprometam novamente sua defesa. A tentativa de arquivamento do processo, a partir do parecer do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), já fracassou três vezes.
NA SUPERFÍCIE
A proposta é de que a análise da documentação pare por aí, limitando-se a verificar a autenticidade das notas fiscais apresentadas pelo presidente do Senado para justificar seus rendimentos com a venda de gado. O Conselho de Ética não deverá ir em frente com as investigações sobre o conhecimento ou não de Renan sobre a legalidade das transações comerciais de venda de gado para frigoríficos e açougues de Alagoas. Ou seja: o conteúdo da documentação não será averiguado pelo conselho.
¿Pode até ser verdade que o senador Renan não sabia de nada, de como foram feitas essas negociações, mas isso precisa ser averiguado. Não dá para ficar só na autenticidade dos documentos sem analisar o conteúdo¿, defendeu o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ele e o senador Jarbas Vasconcellos (PE) são os únicos peemedebistas favoráveis ao aprofundamento das investigações. ¿A verdade é que há uma disposição de todos os partidos, inclusive do DEM e do PSDB, de não querer condenar o Renan¿, disse Simon.
DEPOIMENTOS
Diante da provável declaração de autenticidade dos documentos reunidos pela defesa - embora eles revelem pouco sobre as negociações - os senadores do Conselho de Ética deverão absolver o presidente do Senado, com o arquivamento do processo por falta de decoro parlamentar. A expectativa é de que os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Jefferson Péres (PDT-AM) fiquem sozinhos na defesa do avanço nas investigações. Nem mesmo os depoimentos previstos para amanhã, no conselho, deverão mudar o placar favorável a Renan.
A blindagem em torno do presidente do Senado dentro do PSDB ganhou força com a intervenção do governador de Alagoas, Teotônio Vilella. Amigo pessoal de Renan, o governador tucano pediu pessoalmente aos senadores Marconi Perillo (GO) e Marisa Serrano (MS) para votar pelo arquivamento do processo contra Renan por quebra de decoro parlamentar.
IMAGEM
¿O PSDB vai ter uma enorme preocupação com a imagem do Senado e sabe que a opinião pública está ligada na posição que vamos tomar¿, observou o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Na contramão dos colegas, na condição de suplente no Conselho de Ética, ele apresentou voto em separado pedindo o aprofundamento das investigações. Mas, de acordo com correligionários, tudo não passa de jogo de cena e de uma estratégia dos tucanos para marcar posição e dar um recado à sociedade de que não estão dispostos a inocentar Renan facilmente.
O presidente do Senado também conta com votos a seu favor entre os parlamentares do DEM. O senador Adelmir Santana (DEM-DF) estaria disposto a votar pelo arquivamento do processo contra Renan por quebra de decoro parlamentar. O vice-governador do Distrito Federal, Paulo Otávio (DEM), trabalha incessantemente em favor do senador alagoano. Adelmir era suplente de Paulo Otávio. Outro que ajuda nas articulações em favor da absolvição do presidente do Senado é o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR).
Ele teria pedido ao senador Jonas Pinheiro (MT), que é suplente no Conselho de Ética, para votar pelo arquivamento do processo contra o parlamentar alagoano.