Título: Diante de novas denúncias, senador mudou versão
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2007, Nacional, p. A8
Depois de dizer que Gualter Pereira era o intermediário na venda de gado, Renan agora aponta Zoraide Beltrão
Apesar de ter a seu lado a torcida da maior parte do Senado, a situação do senador Renan Calheiros se agravou consideravelmente com a comprovação de que em sua defesa ele tinha apresentado notas frias. A saída foi mudar de versão. Foi isso que o presidente do Senado fez a partir de anteontem, quando apresentou o nome de Zoraide Beltrão, proprietária do frigorífico Maifral, como a pessoa que fazia a intermediação da venda de gado de suas fazendas.
Até então, Renan sustentava que quem fazia a intermediação era o veterinário Guálter Peixoto, que é secretário de Vigilância Sanitária do município de Murici, cujo prefeito é Renan Calheiros Filho. Guálter saiu de cena como entrou e cedeu lugar no jogo de xadrez a uma senhora de 84 anos que, em Alagoas, tem a fama de negociar gado com um revólver na cintura. Segundo a nova versão de Renan, Zoraide foi a responsável pela emissão de notas fiscais frias de empresas desativadas.
NOVO PAPEL
Um pouco insegura, ela apareceu na TV Globo assumindo essa nova versão. Ela admitiu que comprava as reses nas fazendas de Renan e não exigia recibos pelas compras. Zoraide reconheceu que as empresas das quais apresentou as notas não existem mais. Segundo Renan, ela fazia isso ¿por razões fiscais¿ - e argumentou que não poderia ser acusado por fraudes fiscais eventualmente cometidas por outras pessoas. Antes, o senador tinha apresentado recibos no valor de R$ 127 mil, referentes a supostas vendas de bois à Carnal Carnes de Alagoas; e recibos de R$ 164 mil por vendas à GF da Silva Costa. As duas empresas foram desativadas há muitos anos.
NOVO COMPLICADOR
Zoraide explicou ao Jornal Nacional que pagava as reses compradas de Renan sempre com cheques, mas não tem recibos correspondentes a essas compras. A nova versão pode configurar um novo complicador para o senador, porque conduzirá naturalmente ao exame dos cheques que Zoraide diz ter assinado e comprovação de que eles teriam sido depositados em contas bancárias do senador. Se o cotejo não comprovar que os depósitos foram feitos, ele terá um novo problema.
No périplo que fez no Senado anteontem, após a reportagem incriminadora do Jornal Nacional, Renan sobraçava uma bateria de documentos, que exibia a seus colegas e, por fim, encaminhou ao relator do seu caso no Conselho de Ética, senador Epitácio Cafeteira. O grosso volume de documentos coletados na madrugada de quinta para sexta-feira mostraria até mesmo as Guias de Transporte Animal que comprovariam o total de reses vendidas .
Esses documentos incluiriam também, segundo reportagem de O Globo, reproduções de notas fiscais, recibos, comprovantes de depósitos em conta corrente, extratos bancários exibindo os depósitos dos cheques e recolhimento de impostos, com registro das transações feitas na declaração do imposto de renda.