Título: Novos grampos indicam que Servo e Morelli queriam expandir negócio
Autor: Macedo, Fausto e Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2007, Nacional, p. A10

Para a Polícia Federal, os dois estariam tomando providências para abrir duas casas de bingo

A Polícia Federal acredita que o novo lote de interceptações telefônicas da Operação Xeque-Mate que enviou à Justiça sexta-feira indica que Dario Morelli Filho, compadre do presidente Lula, estava expandindo em ritmo acelerado os negócios de jogos de azar em sociedade com Nilton Servo - acusado de chefiar a máfia dos caça-níqueis. Os dois estariam tomando providências para abrir duas casas de bingo, em São Sebastião (SP) e Manaus (AM). ¿Vão faturar já na primeira semana um caminhão de dinheiro¿, diz Servo a Morelli, numa conversa gravada pela polícia em 30 de maio.

Os planos teriam ruído diante da operação da PF desencadeada cindo dias depois, que levou 80 pessoas para o presídio federal de Campo Grande. Entre os alvos da Xeque-Mate estão Morelli e Servo. A PF acusa o compadre de Lula de ser sócio de Servo em uma casa de videobingo em Ilhabela (SP) e na operação de máquinas caça-níqueis espalhadas pela cidade.

Morelli ficou preso 10 dias. Na quarta-feira à noite foi libertado e voltou a São Bernardo do Campo, onde mora e toca uma empresa que aluga carros para políticos em campanha eleitoral. Os grampos da PF, porém, mostram que ele estaria muito mais empenhado em ampliar sua participação na jogatina.

O advogado Milton Fernando Talzi, que defende Morelli, afirma que seu cliente não é sócio de bingo. À PF, Morelli declarou que tem rendimento mensal de R$ 4,8 mil, seu salário em uma sociedade de economia mista, em Diadema.

Em uma conversa interceptada pela PF em 29 de março, às 14h42, o compadre de Lula recebeu telefonema de um presidiário, não identificado. Os dois comentam sobre um dinheiro que Morelli ficou de depositar para o detento. No diálogo, o compadre do presidente conta ao amigo sobre o negócio que abriu em Ilhabela. ¿É um salão com aquelas máquinas de bingo¿, anuncia, empolgado. Ele afirma que está operando 30 máquinas e vai instalar mais 30 em São Sebastião. Também relata que explora máquinas de rua, funcionando em bares. O prisioneiro aproveita para pedir emprego ao compadre de Lula e diz que vai fugir da cadeia.

`CAIU DO CÉU¿

Nilton Servo, parceiro de Morelli, foi flagrado pelo grampo da PF contando que precisava de mais 150 máquinas caça-níqueis e de um operador em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, onde tem uma casa. A conversa ocorreu no dia 30 de maio. Servo diz que ¿caíram do céu¿ quatro áreas para ele, por isso precisa de operador.

No dia 31 de maio, a quinta-feira que antecedeu a Operação Xeque-Mate, Servo fala com um homem identificado apenas como Haroldo, que o informa sobre suas modernas caça-níqueis. Servo, interessado na aquisição de novas máquinas, explica ¿que precisa do maior número de equipamentos possível¿ e diz: ¿É um p... de um campo, que tinha parado tudo e que começou a voltar e que não pode demorar.¿ Para a PF, essa negociação reforça as evidências de que o suposto líder da máfia do jogo pretendia instalar novas casas de bingo em cidades do litoral paulista, em parceria com Morelli.

Outro indício de que os amigos de Lula agiam à margem da lei e buscavam driblar o Fisco, segundo a PF, é o contato entre Servo e um funcionário identificado por Dentinho, naquele mesmo dia 31 de maio. Eles tratam sobre o transporte de máquinas de São Paulo para Mato Grosso do Sul. Dentinho informa que as caça-níqueis ¿não têm nota¿. Mostrando que já sabia que estava sendo monitorado pela PF, Servo repreende o funcionário, diz a ele que ¿não pode falar isso no telefone¿ e sugere que ligue de um orelhão.