Título: Laboratórios fazem produtos sob encomenda
Autor: Amorim, Cristina
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2007, Vida&, p. A25

Número de lançamentos no mercado nacional cresceu no último ano, mas não chega perto de países como EUA

A nanotecnologia nacional incorre no mesmo problema de outras áreas da ciência: a transformação da pesquisa em produto. Ainda que centros de excelência comecem a se consolidar, especialmente no Sudeste, há dificuldade de cientistas e empresários falarem a mesma língua.

Alguns poucos produtos nacionais começam a aparecer nas prateleiras. No setor de cosmética, nanoestruturas em cremes levam princípios ativos por meio das camadas da pele. Em eletrodomésticos, uma lavadora adquire propriedade antibactericida - praticamente pelo mesmo preço de outros produtos. Mais lançamentos são previstos para os próximos meses e anos.

Ainda assim, um levantamento feito pelo Ministério de Ciência e Tecnologia indica que existem apenas entre 15 e 20 nanoprodutos nacionais hoje no mercado. No americano, são mais de 500. No ano passado, foram vendidos, em todo o mundo, US$ 30 bilhões desses produtos, segundo a empresa de pesquisas Lux Research.

¿É cultural. A maioria dos empresários sabe o que seu cliente quer, mas não sabe que pode entrar num laboratório de pesquisa e encomendar o produto do jeito que deseja¿, diz Ronaldo Marchese, da RJR Consultores, que promove a feira anual Nanotec.

Segundo o estudo publicado pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), do governo, a nanotecnologia pode gerar empregos e rendimentos. Desde que haja maior interação entre centros de pesquisa e desenvolvimento e empresas. ¿Se a comercialização for demorada, empregos e patentes podem ser transferidos até para outros países¿, indica o estudo.

CONTRAPARTIDA

O secretário-geral do NAE, coronel Oswaldo Oliva Neto, chegou a visitar a Fiesp para levantar o tema. ¿É preciso fazer interface entre o público leigo e o especializado, para que a nanotecnologia seja incorporada na linha de produção¿, diz.

Ele admite que mais investimentos são necessários, mas acredita que a contrapartida deva vir do setor empresarial. Algumas grandes companhias nacionais entraram no setor, como Companhia Vale do Rio Doce, Santista Têxtil, Boticário, Natura e Suzano Petroquímica.

Esta desenvolveu, com a Suggar, a lavadora com nanotecnologia. A produção, que era de 40 mil, está em 55 mil. A empresa estuda ampliar a aplicação em depuradores de ar. O Boticário, que trabalha com o tema desde 2004, prepara-se para lançar seu segundo produto neste ano.

Porém, poucas empresas médias e pequenas se arriscam a acompanhar a tendência. A Incrementha PD&I, parceria dos laboratórios Biolab e Eurofarma e do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas, pode lançar em 2009 o primeiro nanomedicamento brasileiro, um anestésico tópico com nanocápsulas que penetram na pele e levam o composto mais perto da área visada.

A Incrementa já tem duas patentes em nanotecnologia e espera mais duas, pelo menos, até o produto ter o aval para comercialização. ¿As empresas que estão investindo e arriscando hoje são aquelas que terão destaque amanhã¿, diz seu diretor-técnico, Henry Suzuki.