Título: 'Interferência de partidos políticos é natural'
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2007, Vida&, p. A28

¿Fingir que os partidos não têm influência no movimento estudantil é bobagem¿, critica o jornalista Alon Feuerwerker, editor do Correio Braziliense e ex-integrante da tendência Caminhando. ¿Esses partidos são legítimos. E sua participação na política estudantil é tão legítima quanto é legítimo os estudantes e a sociedade saberem que eles estão participando¿, arremata.

Ottaviano del Fiore, hoje diretor do Museu da Língua Portuguesa e líder da Ação Popular na década dos 50, diz que as atuais lideranças do Movimento Estudantil (ME) seguem a tradição jacobina que vem da sua época. ¿Eles acreditam na teoria da vanguarda e na pureza da ideologia, são uma elite que se autonomeia guardiã da revolução¿, comenta.

Uma visão diferente vem da psicóloga Vera Paiva: ¿O momento histórico é diferente. Ainda bem que não precisamos mais dos estudantes para mover o mundo.¿ Ela destaca que hoje existem muitos atores sociais que não precisam de vanguardas para se organizar. ¿Não gosto de comparar gerações, mas é possível que a melhor contribuição da atual geração não seja o ME.¿

Aloizio Mercadante opina que o movimento não deveria ser correia de transmissão de partidos políticos. Para ele, os estudantes universitários são atraídos por ONGs, por partidos políticos, pelo mercado de trabalho cada vez mais exigente, que cobra uma formação elaborada. ¿O lugar da universidade na sociedade, hoje, é outro¿, comenta o senador do PT.

As antigas tendências começaram a desaparecer na redemocratização. A maior parte da Refazendo (AP) foi para o PT; a Libelu foi inteira; a turma da Caminhando ficou no PC do B; a Unidade desaguou no PCB (depois PPS); o pessoal do MR-8 já estava acomodado no MDB. Com o tempo, as tendências mais radicais foram sendo expurgadas do PT e formaram grupelhos pouco numerosos e muito barulhentos, como o PSTU, o PCO (Causa Operária) e, mais adiante, o PSOL.

Essas tendências radicais não praticam a negociação política. ¿Nas assembléias, não falam para propor ou negociar, mas para estimular o impasse¿, sentencia o arquiteto Sylvio Sawaya, outro antigo militante da AP e presidente do conselho de representantes dos Centros Acadêmicos, a antiga versão do DCE, em 1963.