Título: 'Não se pode eleger dois ou três setores como prioritários'
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2007, Economia, p. B5
Para dirigente, o governo deveria adotar uma política industrial que beneficiasse todos os segmentos
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, defende que a política industrial deve ser ampliada. Para ele, todos os segmentos deveriam ser beneficiados, não apenas poucos setores considerados prioritários. ¿A questão central deve ser a inovação.¿
Como o sr. avalia a política industrial que o governo Lula anunciou ainda no primeiro mandato?
Teve foco em alguns setores, mas é evidente que precisa e deve ser revista. Deve-se corrigir rumos, ficar atento às tendências. Não é uma política que se cristaliza, com o foco que foi dado apenas a setores como fármacos, de bens de capital e semicondutores. É evidente que algumas coisas não aconteceram ainda, o que é o caso dos semicondutores. Acho que, neste momento, seguramente o Luciano (Coutinho, presidente do BNDES) e o (ministro do Desenvolvimento) Miguel Jorge devem estar estudando alguma correção de rumo, ampliando talvez o foco.
O que precisa ser mudado?
Tem de haver uma visão de que não se pode eleger dois ou três setores. Tem de haver uma opção clara por uma linha que eu acho que o Brasil não deve deixar de considerar sempre. Não devemos buscar uma especialização na indústria. Pelas características da nossa economia, pela diversidade da própria indústria, temos de manter uma opção clara de ter uma base industrial ampla e diversificada. Essa política deve ter um compromisso com ações horizontais que beneficiem o conjunto dos setores.
Qual deve ser o principal compromisso dessa política?
A questão central dessa agenda horizontal é um apoio muito firme na questão da inovação, em todas as áreas. Um firme engajamento do BNDES e das políticas públicas no sentido de passarmos a ter um sistema nacional de inovação, de modo que a indústria possa efetivamente ter ganhos de produtividade no futuro.
Como seria o incentivo?
De todas as formas. Criando modelos de financiamento mais adequados, integrando tal sistema de inovação, ou seja, fazendo um papel ativo na questão da empresa, dos centros geradores de conhecimento, das redes de metrologia. Esse foco tem de ser muito importante, principalmente para a inserção internacional da indústria brasileira. Temos de procurar ser um ator de destaque nessa área.
As medidas do governo para compensar os setores mais afetados pelo câmbio são suficientes?
A gente não pode ter a ilusão de que o câmbio vai mudar. Seria ingênuo trabalhar com a expectativa de que o governo vai fazer uma inflexão na política cambial. Vamos ter de trabalhar numa agenda que envolve o esforço das empresas em procurar nichos e do governo no sentido de construir linhas de financiamento e algum tipo de apoio para que essas empresas promovam os ajuste necessários. É um processo que não aponta para medidas que possam resolver o problema no curto prazo.