Título: Falta o governo arregaçar as mangas, diz Skaf
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2007, Economia, p. B5

Para presidente da Fiesp, é preciso atacar `problemas grosseiros¿, como lentidão das reformas e gasto público

O crescimento econômico abaixo do esperado no primeiro trimestre, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada, reforçou o movimento das lideranças empresariais pela adoção de uma política de desenvolvimento que estimule o avanço da indústria. Segundo elas, o que existe, por enquanto, são muitas promessas e as poucas medidas anunciadas têm caráter paliativo e não resolvem os verdadeiros problemas do País.

¿Temos todas as condições para crescer sem comprometer o equilíbrio macroeconômico¿, diz Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). ¿Falta apenas arregaçar as mangas e tomar a decisão política de enfrentar o que for preciso para colocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento.¿

Para Skaf, não há melhor maneira de se começar uma política industrial do que resolvendo problemas evidentes, que infernizam a vida de quem produz e trabalha no País. Entre eles, cita a demora nas reformas estruturais (tributária, trabalhista e política, entre outras), os gastos públicos crescentes, os juros elevados e o real valorizado, que ¿rouba¿ a competitividade do País.

¿Quando se fala hoje em política industrial, eu acho muita graça¿, diz Skaf. ¿É preciso resolver primeiro os problemas grosseiros, que estão aí, debaixo do nosso nariz, para poder entrar no detalhe de setores prioritários.¿

A indústria de transformação, que emprega mais mão-de-obra que a extrativa, cresceu só 2,8% no primeiro trimestre, ante igual período do ano passado. É um ritmo bem inferior ao da expansão do Produto Interno Bruto (PIB), de 4,3%, na mesma comparação.

¿É preocupante porque a indústria demanda serviços, fornece mercadorias para o comércio e absorve produtos da agropecuária¿, observa o presidente da Fiesp. ¿Nenhum país consegue manter um desenvolvimento robusto e sustentável se não puder contar com a alavancagem da indústria.¿

O empresário Ivoncy Ioschpe, presidente do conselho de administração da Iochpe-Maxion, diz que é muito difícil encontrar soluções para o desenvolvimento num quadro de desequilíbrio forte de fundamentos importantes como o que ocorre hoje com o câmbio e a taxa de juros. ¿Sem atacar esses problemas, as medidas podem até dar certo, mas demoram para surtir efeito e o custo é extremamente alto.¿

Os representantes do setor produtivo vêem no presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, um aliado importante dentro do governo. ¿É alguém que conhece bem a economia industrial e já tem desempenhado um papel construtivo na questão do câmbio¿, diz Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para ele, embora comprometido com a atual política industrial do governo, Coutinho deverá imprimir a sua marca, ampliando um pouco o foco da política.