Título: Renan leva crise a Lula e cobra apoio do PT para salvar mandato
Autor: Samarco, Christiane e Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2007, Nacional, p. A4

Presidente do Senado argumentou que ele e o governo estão sendo vítimas de operação política da oposição

Em um dos movimentos políticos mais ousados para compensar a fragilidade da defesa e os rachas na base aliada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), levou ontem para o Palácio do Planalto a crise provocada pelo processo disciplinar movido contra ele no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. Renan conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manhã, durante 40 minutos, e cobrou dele ajuda para alinhar novamente o PT na sua defesa.

Foi o senador quem pediu a audiência. Renan deixou o Planalto alegando estar convicto de que Lula foi solidário com ele. Conversou, ainda, com os governadores tucanos José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais.

Não foi só: na hora do almoço, ligou para o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). A todos pediu que intercedessem junto às bancadas para ser inocentado no conselho. No telefonema a Arruda, Renan sugeriu que conta com o recesso do Legislativo, a partir do dia 15 de julho, para esfriar o caso.

Na conversa com o presidente, Renan argumentou que ele e o governo estão sendo vítimas de uma ¿operação política¿ cuidadosamente planejada pela oposição. ¿É um processo que não tem fim¿, resumiu. Acusado de receber dinheiro do lobista Cláudio Gontijo para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha, o presidente do Senado disse a Lula que apresentou ¿todos os documentos¿ para provar que possuía recursos, não necessitando da ajuda da empreiteira Mendes Júnior.

Segundo um senador do PMDB que ouviu o relato de Renan sobre a audiência, a avaliação foi de que, diante da ¿declaração de guerra¿ feita na véspera pelo DEM, o conflito no Conselho de Ética ganhou a dimensão de batalha política entre o governo e a oposição.

SUPLICY

Lula também teria reclamado da atuação da base aliada no conselho, que não teria compreendido qual é o verdadeiro jogo político nem o que está por trás disso. O Estado apurou que, durante a conversa, o presidente criticou a posição dos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Augusto Botelho (PT-RR) e Renato Casagrande (PSB-ES). ¿Quem indicou Suplicy para o conselho?¿, teria perguntado, insinuando que o senador paulista não cumpre acordos partidários e age sempre como julga mais conveniente.

A prova de que há uma ¿declaração de guerra¿ da oposição ao governo seria a nota divulgada pela Executiva Nacional do DEM, que se reuniu na terça-feira para exigir que Renan se afastasse da presidência do Senado. Renan reafirmou a Lula ontem que não deixará o comando da Casa.

Depois de ouvir Renan cobrando a fatura do apoio ao governo, Lula chamou ao gabinete a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), e o senador Tião Viana (AC). Perguntou-lhes qual seria a solução para resolver o impasse no Conselho de Ética. Uma das alternativas sugeridas foi a convocação do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), homem da confiança do presidente.

A essa altura, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) - que é amigo de Renan - já articulava uma dobradinha com Mercadante na tentativa de salvar o peemedebista. A operação acabou fracassando (leia na página 6).

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse que o partido continuará solidário a Renan e que o Conselho de Ética deve desmembrar o processo para que outras eventuais dúvidas sejam apuradas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). ¿Até porque o conselho não tem estrutura para investigar tudo¿, afirmou Berzoini.

DISPUTA

Ao analisar o quadro político, Renan disse a Lula que o objetivo da ofensiva da oposição é tomar a presidência do Senado dos governistas na metade final de seu segundo mandato, com o propósito de infernizar a vida do governo.

O PMDB e o Planalto consideram que uma eventual substituição de Renan pelo senador José Sarney (PMDB-AP) - para completar o mandato de presidente do Congresso, que terminará em fevereiro de 2009 - ¿queimaria¿ a alternativa ¿mais forte e viável¿ do partido para enfrentar a oposição em nova disputa. Motivo: as regras regimentais não permitem a reeleição.

O Planalto teria interesse em poupar Sarney, que só voltaria à presidência do Senado dentro de dois anos, para ter a chance de conseguir outro mandato e seguir no posto até o fim do governo Lula.

Renan disse ao presidente que, além de impedir a votação das medidas provisórias, a oposição pode prejudicar projetos considerados fundamentais ao Planalto e que já estão a caminho do Senado, como é o caso da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A medida deve render ao governo cerca de R$ 38 bilhões este ano. O Planalto também quer prorrogar a Desvinculação das Receitas da União (DRU), que dá liberdade ao Executivo para gastar como quiser 20% de sua arrecadação. Na prática, o presidente do Senado deixou claro que, se for defenestrado, o governo perderá.

Na terça-feira, quem comandou a obstrução no plenário foi o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), numa articulação bem-sucedida. Dos 56 senadores que estavam na Casa, apenas 30 registraram presença no painel eletrônico de votação, derrubando a sessão convocada para votar medidas provisórias, entre elas o reajuste do salário mínimo.