Título: Grevistas protestam em evento com Lula
Autor: Nossa, Leonencio e Gomes, Fabíola
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2007, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi surpreendido ontem, na solenidade de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, por 30 funcionários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que burlaram os seguranças e entraram no Palácio do Planalto com faixas e cartazes pedindo reajuste salarial - os servidores estão em greve há 39 dias. Lula reagiu e voltou a defender o corte de salário nas paralisações do serviço público.

¿Não sou contra greve, quero regulamentar a greve¿, disse. ¿Ninguém pode ficar 70 dias sem trabalhar e depois receber.¿ Lula afirmou que seu governo é democrático, permitindo, inclusive, que funcionários do Incra entrem no Planalto para protestar. ¿Enquanto eu for presidente, os companheiros podem gritar aqui ou podem gritar lá fora. Mas na hora de fazer acordo, têm que sentar à mesa de negociação e fazer o acordo que é possível fazer.¿

Enquanto o presidente enaltecia a diálogo, seguranças arrancavam uma faixa com a inscrição ¿Lula não cumpre acordos¿ e servidores, usando coletes vermelhos, gritavam ¿democracia, democracia¿. Eles também levantavam placas de cartolina com a frase ¿Incra em greve¿. O tumulto aconteceu a 20 metros do presidente.

Longe dos holofotes, Lula reclamou com a chefia da segurança do Planalto pelo que considerou um erro. Em conversas reservadas, integrantes da equipe de segurança disseram que os grevistas se infiltraram no palácio juntamente com o grupo do Ministério do Desenvolvimento Agrário e para conseguir entrar no Salão Oeste, onde ocorreu a cerimônia, esconderam os coletes vermelhos.

Lula não ficou irritado apenas com os grevistas. Ele mostrou claro descontentamento com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que em seu discurso não teria ressaltado a ¿conquista¿ do plano de agricultura, que prevê R$ 12 bilhões em financiamentos, preferindo citar o problema dos servidores do Incra. Cassel foi vaiado pelos grevistas ao afirmar que o governo contratou 4,5 mil funcionários e recuperou o salário da categoria.

Da mesma forma, Lula não gostou da atitude do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Contag), Manoel dos Santos, seu amigo e figura assídua no Planalto, que em seu discurso defendeu o reajuste para a categoria. ¿Na negociação, tem um limite possível¿, reclamou Lula. ¿Nessa coisa de negociação, Mané, pode ter alguém igual, melhor do que eu não tem, porque aprendi isso no chão de fábrica e todo mundo sabe que jogo aberto.¿

IBAMA

Sobrou até para os funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em greve desde 14 de maio. ¿Pergunta por que o Ibama está em greve, hoje. Eles não sabem¿, criticou o presidente. ¿Tiveram o aumento que queriam. É porque a Marina está propondo uma mudança entre a turma da licença prévia e a dos parques¿, disse, referindo-se à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e à medida provisória que cria o Instituto Chico Mendes, dividindo o Ibama.

Antes da solenidade começar, seguranças já tinham arrancado duas faixas dos funcionários do Incra. Os grevistas, então, cobraram deles a retirada também de uma faixa de apoio ao presidente Lula.

Em seu discurso, o presidente disse que nos quatro anos do seu primeiro mandato desapropriou 30 milhões de hectares de terra para reforma agrária e que nos oito anos do governo anterior foram desapropriados 22 milhões de hectares. ¿É humanamente impossível, em quatro ou oito anos, fazer o que costuma levar décadas e séculos¿, afirmou.

Ele acrescentou que seu governo deu reajuste médio de 60% para o funcionalismo. ¿Quando você dá aumento para uns, todos querem. A folha de pagamento tem um limite. E, se eu gastar tudo com pagamento, não tenho como fazer o Plano Safra, dar assistência técnica e fazer assentamentos.¿

FRASES

Luiz Inácio Lula da Silva Presidente

¿Não sou contra greve, quero regulamentar a greve¿

¿Ninguém pode ficar 70 dias sem trabalhar e depois receber¿

¿Enquanto eu for presidente, os companheiros podem gritar aqui ou podem gritar lá fora. Mas na hora de fazer acordo, têm que sentar à mesa de negociação e fazer o acordo que é possível fazer¿