Título: Câmara derruba proposta de lista partidária
Autor: Madueño, Denise e Nunes Leal, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2007, Nacional, p. A10

Entre os principais pontos da reforma política, tanto proposta original como a flexível foram enterradas

Os deputados rejeitaram ontem o sistema de voto em lista pré-ordenada pelos partidos políticos, um dos principais pontos do projeto de reforma política, em uma sessão barulhenta, na qual os favoráveis e os contrários ao item se comportaram como torcidas organizadas. O placar registrou 252 votos contrários, 181 favoráveis e 3 abstenções, rejeitando as duas propostas: lista fechada e a flexível. Com a decisão, o eleitor continuará votando diretamente no candidato de sua preferência, como é atualmente. Para muitos deputados, a rejeição à lista vai provocar o fim da proposta do financiamento público de campanha e enterrar a reforma política.

¿Perdemos. Não tem reforma política. Essa é a expressão de quem não quer mudar nada. Foi uma opção conservadora da Câmara e dos que não querem reforma alguma¿, lamentou o deputado Flávio Dino (PC do B-MA), um dos autores da emenda alternativa dos partidos. Com o mesmo diagnóstico de que a reforma não vai adiante, mas em tom inverso, o tucano Arnaldo Madeira (PSDB-SP) comemorou. ¿O que estava sendo votado era uma excrescência. Espero que agora haja uma volta ao bom senso e, com calma, possamos discutir uma reforma constitucional¿, disse.

O PT, o PMDB, o DEM e o PC do B, que nas últimas semanas lutaram por uma proposta alternativa ao projeto do relator da reforma, Ronaldo Caiado (DEM-GO), reconheceram a derrota já na primeira votação da noite, quando não conseguiram dar prioridade para a emenda que apresentaram propondo a lista flexível. Dissidentes do PMDB e do DEM foram decisivos para essa derrota. Os partidos contrários ao sistema de lista votaram praticamente unidos.

FINANCIAMENTO

O sistema de lista foi o único item da reforma votado ontem. Até a próxima semana, os deputados tentarão negociar os outros pontos, como o fim das coligações nas eleições proporcionais (deputados e vereadores), o financiamento público de campanha e a fidelidade partidária, proposta em outro projeto.

A derrota na preliminar, quando os quatro partidos não conseguiram votar a proposta alternativa, foi comemorada no plenário com gritos e abraços entre os deputados contrários à proposta. Durante a votação, eles puxaram um coro: ¿Não, não, não.¿ O grupo do ¿sim¿ era menos barulhento, já prevendo a derrota. Em meio à disputa, o deputado Sandro Mabel (PR-GO), distribuída salgadinhos e biscoitos de sua fábrica. ¿É o programa de transferência de renda mínima do deputado Mabel¿, brincou o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

O grupo do ¿não¿ cobrou o voto do líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE), que estava em plenário, mas não registrou sua posição. O partido de José Múcio foi desde o início contra as listas flexível e fechada e votou unido na sessão de ontem.

Caiado comemorou o resultado da primeira votação embora soubesse que na discussão da lista seria derrotado. Ele propunha o sistema de lista fechada, na qual o eleitor passaria a votar apenas no partido. A proposta do DEM, do PT, do PMDB e do PC do B previa a lista flexível, com o voto no partido e a opção de o eleitor votar no candidato de sua preferência.

No canto do plenário, o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), repreendeu Caiado pelo discurso contrário à posição do partido. ¿Seu discurso foi contra o do líder (Onyx Lorenzoni). Você recebeu apoio de quem está contra nós. Vamos sofrer duas derrotas¿, afirmou Maia, mostrando que tanto a lista fechada defendida pelo relator quanto a lista flexível proposta pelo DEM seriam rejeitadas.