Título: Blair é novo enviado especial de paz
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2007, Internacional, p. A16

Ex-primeiro-ministro britânico assume desafio de obter avanços nas negociações entre palestinos e israelenses

Tony Blair foi nomeado ontem enviado para o Oriente Médio pelo chamado Quarteto de Madri - formado por EUA, Rússia, União Européia e ONU. O anúncio foi feito horas após ele deixar o cargo de primeiro-ministro da Grã-Bretanha, depois de dez anos no poder.

Blair disse que é possível uma 'solução' para os problemas no Oriente Médio, mas isso exigirá 'muita energia e trabalho'. Ele também afirmou aos deputados britânicos que uma 'solução com dois Estados' - um palestino e outro israelense - era uma 'prioridade absoluta'. A nomeação de Blair já era praticamente certa na terça-feira. Mas o anúncio, na sede da ONU em Nova York, só foi feito ontem, em um dia de violência na Faixa de Gaza, que deixou 13 palestinos mortos (leia abaixo).

Em um comunicado, o Quarteto disse que Blair mobilizará ajuda para os palestinos, para tentar construir suas instituições de governo e promover o desenvolvimento econômico. Blair, de 54 anos, substitui o ex-presidente do Banco Mundial James Wolfensohn, que renunciou em abril de 2006 depois de um ano de frustração com a dificuldade em obter progressos no processo de paz - um desafio diplomático de quase 60 anos. O Quarteto tenta desde 2003 obter um avanço no chamado Mapa da Estrada, um projeto elaborado para obter a paz no Oriente Médio com base no princípio de dois Estados coexistindo em paz e segurança.

O movimento radical islâmico Hamas criticou ontem duramente a nomeação de Blair como enviado para o Oriente Médio. 'Blair sempre trabalhou sob a proteção dos EUA e está por trás de guerras e desastres que ainda perduram no Iraque, na Somália, no Afeganistão e no Líbano', disse Fawzi Barhoum, porta-voz do Hamas em Gaza. Ele acrescentou que Blair não é bem-vindo, pois nunca foi sincero com relação ao desejo palestino de libertação dos prisioneiros que estão em prisões israelenses e o fim da ocupação.

Blair perdeu grande parte de seu prestígio internacional ao apoiar os EUA na invasão do Iraque e respaldar Israel em sua guerra contra o movimento xiita Hezbollah, no Líbano, no ano passado. O presidente americano, George W. Bush, elogiou Blair ontem, qualificando como um 'líder visionário' que 'defende seus valores e convicções'. A escolha de Blair foi saudada pelo premiê israelense, Ehud Olmert, e pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.