Título: Antiamericanismo bate novo recorde
Autor: Campos Mello, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2007, Internacional, p. A19

Pesquisa mostra grande desconfiança quanto aos EUA, China e Rússia; no Brasil, 80% não confiam em Bush

O antiamericanismo atingiu níveis recordes no mundo, segundo uma pesquisa divulgada ontem pelo Pew Research Center. A pesquisa, feita com base em 47 mil entrevistas em 47 países, mostra ainda que a maioria das pessoas não confia em nenhuma das grandes potências, nem em líderes 'alternativos', como os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) ou Mahmud Ahmadinejad (Irã).

Entre os brasileiros, cerca de 80% não confiam no presidente americano, George W. Bush. Mas Chávez também não tem uma imagem muito melhor no Brasil, onde a desconfiança em relação ao venezuelano chega a 74%. Quanto ao Irã, 78% dos brasileiros têm opinião contrária ao país e 75% acham que a república islâmica será uma grande ameaça para o Brasil se obtiver armas nucleares (na Venezuela, apenas 34% têm esse temor).

'As pessoas não confiam mais nas potências dominantes, há uma rejeição não apenas aos Estados Unidos, mas também à China e Rússia', disse Madeleine Albright, ex-secretária americana de Estado e presidente do conselho da Pew Research. Para Albright, o problema é que não está surgindo nenhum movimento que seja uma alternativa às potências dominantes. 'Durante a Guerra Fria, tínhamos o movimento dos não-alinhados; agora, não temos nenhuma liderança entre os outros países, só desconfiança em relação às grandes potências', diz.

Bush é impopular na maioria dos países, mas o russo Vladimir Putin está quase empatado com ele em termos de baixa popularidade. Só 7% dos espanhóis afirmaram apoiar tanto Bush quanto Putin. A situação é pior nos países muçulmanos do Oriente Médio e da Ásia - na Turquia, só 9% das pessoas têm uma visão positiva dos Estados Unidos. Na Alemanha, o apoio despencou de 78% em 2000 para 30% hoje. A África é uma das únicas regiões que mantêm os EUA em alta estima, ao lado da Índia (59%) e Japão (61%).

A imagem americana sofreu muito nos últimos anos na América Latina. Fora do Oriente Médio, ao Argentina é o país com maior índice de antiamericanismo - só 16% dos argentinos apóiam os EUA. No Brasil, a visão favorável caiu de 56% em 2000 para 44% neste ano.

Segundo a pesquisa, o antiamericanismo é reflexo da rejeição à política externa dos EUA, vista como unilateralista. Além disso, o país é tido como responsável pela maioria dos problemas ambientais de hoje.

'Há uma desconfiança global em relação à liderança americana, que pode ser percebida pelo apoio generalizado à retirada das tropas do Iraque e ao fim das operações dos EUA e da Otan no Afeganistão', diz Andrew Kohut, presidente do Pew Research Center.

Dos 47 países pesquisados, 43 acreditam que os EUA promovem a democracia só quando lhes interessa. Em muitos países, grande parte da população acredita também que os EUA favorecem Israel exageradamente. Essa opinião é manifestada principalmente em nações do Oriente Médio, mas também na França (62%) e até no próprio Estado judeu (42%).

No Brasil, 76% querem que os EUA retirem suas tropas do Iraque e 74% pedem a saída do Afeganistão. Apenas Israel e alguns países africanos apóiam a permanência.

Outro país com problemas de imagem é a China. Na Europa, apenas 39% dos espanhóis, 39% dos poloneses e 34% dos alemães têm uma visão favorável do país asiático. Já no Brasil, 50% têm visão positiva da China, diante de 32% na Argentina.

NÚMEROS

7% dos espanhóis apóiam Bush e Putin

9% dos turcos têm uma visão positiva dos EUA

16% dos argentinos apóiam o governo americano

44% dos brasileiros são pró-Estados Unidos