Título: 'ONU faz pressão sobre Lula'
Autor: Nunes Leal, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2007, Vida&, p. A22

Zilda Arns: médica e coordenadora da Pastoral da Criança

Para médica elogiada por seu trabalho com crianças, grupos pró-aborto se utilizam de números da OMS que não existem

Elogiada com freqüência pelo trabalho à frente da Pastoral da Criança, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual é fundadora e coordenadora nacional, a pediatra e sanitarista Zilda Arns ouviu vaias ontem de um grupo de mulheres que defendem a descriminação do aborto, durante audiência pública na Câmara. Os ânimos na platéia estavam exaltados, mas a dra. Zilda, como é chamada, não perdeu a calma nem a firmeza. Preferiu prestar atenção nos muitos aplausos vindos de alguns deputados e das militantes contra o aborto que também lotavam o plenário. Em um intervalo, a médica de 72 anos, quatro filhos (a filha Sílvia morreu há três anos) e nove netos, falou ao Estado.

Como a senhora recebeu as vaias durante sua exposição na audiência pública?

Nem escutei. Recebi muito mais louvor do que vaia. Cada um tem sua opinião. Quando alguém mostra que o aborto não vai mudar a situação, os inconformados têm de se manifestar. Mas eu nem escuto essas coisas.

Como a senhora reage quando vê o ministro da Saúde e representantes do ministério na defesa da discussão sobre uma lei mais flexível?

Tenho certeza de que deve haver uma pressão da ONU sobre o presidente Lula e ele respondeu às Nações Unidas que vai cuidar disso. O ministro José Temporão naturalmente tem de ajudar o presidente nisso.

Na sua opinião, a lei deve ser mantida como está, com autorização para aborto nos casos de estupro e de risco para a mãe?

Sou contra até quando há estupro. Acho que ninguém tem o direito de desrespeitar a vida.

Que alternativa a senhora vê?

A solução é assistência pré-natal, durante o parto e depois do parto. Melhor escolaridade das mães, melhor nível de vida. Esse é um assunto discutido no Congresso há pelo menos 16 anos. Nunca participei de uma audiência pública sobre esse assunto, mas estou achando muito interessante. Creio que muitos ainda não atentam para a absoluta necessidade da boa assistência ao pré-natal, ao parto, para reduzir mortalidade materna. Depois, melhorar o nível de escolaridade. Aí é que está o xis da questão para reduzirmos a mortalidade materna.

Há muitas divergências sobre dados de abortos e mortes das mães?

O pessoal quando quer defender fala de dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Eu fui atrás e vi que não tem nada disso na OMS. Quando o pessoal quer defender, coloca a OMS no meio.

A senhora concorda que, por trás da defesa da descriminação do aborto, está a tese de diminuição da natalidade?

Não posso dizer qual a razão, o fato é que existem organizações internacionais que pressionam a ONU para que países adotem leis para despenalizar o aborto.