Título: Achada nova fonte de célula-tronco
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2007, Vida&, p. A24

CTs foram extraídas de parte de embrião de roedores e são muito semelhantes às humanas, o que facilitará pesquisa

Dois grupos independentes de cientistas ingleses anunciam hoje, na revista Nature, um novo tipo de células-tronco embrionárias em roedores muito parecido com as humanas . Eles indicam, em dois artigos separados, que a descoberta pode acelerar a pesquisa sobre a aplicação dessas células em terapias.

As equipes - uma é da Universidade de Oxford e a outra, de Cambridge - afirmam que células-tronco retiradas do epiblasto de roedores são muito parecidas com as embrionárias humanas. Epiblasto é uma camada interna de células, presente no embrião de uma semana.

Roedores, especialmente camundongos, são normalmente usados como modelo para os cientistas estudarem o potencial das células-tronco. Elas podem se transformar em qualquer tecido do corpo e, assim, ser virtualmente usadas em diversas terapias, como para tratar Parkinson e lesões na medula, por exemplo.

Porém, a equivalência entre as de roedores e de humanos está longe do ideal. O tratamento concedido em laboratório é diferente, assim como a resposta obtida. Isso causa certa frustração entre as pessoas que trabalham nesse campo - especialmente quando se leva em conta o investimento em dinheiro, tempo e pessoal aplicado nas pesquisas.

O óbvio (mas não tão óbvio para a ciência) foi dito pelo líder do time de Cambridge, Roger Pedersen: ¿No fim das contas, temos de admitir que camundongos não são humanos. Mas agora temos um modelo muito melhor do que o anterior.¿

EQUIVALÊNCIA

As ¿novas¿ células não padecem do problema, afirmam os grupos britânicos. Segundo eles, quando retiradas do epiblasto de um embrião roedor de uma semana (em vez de 3 a 4 dias após a concepção, como normalmente é feito), as diferenças são bastante minimizadas: elas são, na verdade, quase idênticas e até visualmente parecidas com as humanas.

Primeiro, foram usados os mesmos químicos aplicados no cultivo de células-tronco embrionárias humanas, os fatores de crescimento, sem problemas detectados. Em seguida, os dois grupos produziram linhagens estáveis dessas células. É um passo essencial para que cientistas entendam detalhadamente a mecânica por trás da capacidade das células de virarem células maduras, como musculares, ósseas e nervosas.

¿Em nível molecular, essas células-tronco embrionárias se parecem mais com as (células) humanas do que com as dos ratos. As diferenças entre uma e outra, que até agora tinham sido atribuídas à diferenciação entre as espécies, podem ser realmente fruto dos diferentes estados de desenvolvimento dos quais provêm¿, diz Pedersen.

O uso de células do epiblasto certamente não levará a uma rápida e surpreendente criação de tratamentos - muita pesquisa básica ainda precisa ser feita, assim como exaustivos testes de segurança e eficiência.

Contudo, o fato de duas equipes chegarem a uma mesma conclusão ao mesmo tempo é sinal de que a pesquisa sobre células-tronco está em um bom momento. ¿Estamos alcançando um ponto crítico no entendimento dessas células, o que indica que daremos o melhor nos próximos anos¿, diz o líder do grupo de Oxford, Richard Gardner.

APLICAÇÃO

Pedersen - que deixou os Estados Unidos em 2001 por causa das restrições impostas pela administração Bush para quem trabalha com fontes embrionárias - quer buscar agora formas de controlar o crescimento e a diferenciação dessas células, a fim de buscar a tão almejada aplicação médica.

Já Gardner acredita que a descoberta pode também estimular os pesquisadores a buscarem células-tronco de outras espécies, inclusive de gado.

Para ele, buscar outras fontes pode abrir novas janelas para a pesquisa médica, uma vez que grandes mamíferos costumam ser melhores modelos animais do que roedores. Ovelhas, por exemplo, são amplamente usadas no estudo de tratamentos para a fibrose cística em pessoas.