Título: Justiça manda acampado sair de área da transposição
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2007, Nacional, p. A19

Canteiro de obras está ocupado desde terça-feira por 1.500 manifestantes

Por decisão judicial, o acampamento montado às margens do Rio São Francisco, em protesto contra as obras de transposição de suas águas, terá que ser desmontado. Atendendo a solicitação do Ministério da Integração Nacional, o juiz federal Georgios Augustino Príncipe Credidio concedeu ontem ordem de reintegração de posse da área, no município de Cabrobó, Pernambuco. Até o início da noite de ontem, porém, a coordenação do acampamento, com cerca de 1.500 pessoas, ainda não havia sido comunicada sobre a desocupação.

O acampamento está montado na antiga Fazenda Toco Preto, na área onde o Exército, responsável pela execução dessa fase do projeto, trabalha no primeiro canteiro de obras de captação de águas. A ocupação ocorreu na madrugada de terça feira, organizada por grupos contrários à transposição.

Um dos grupos mais destacados é o dos índios trucás. Eles alegam que a área lhes pertence e que não foram ouvidos nos debates sobre a transposição.

Na quinta-feira, os advogados dos índios apresentaram ao Ministério Público Federal, em Serra Talhada, um pedido para que seja agilizado o processo de demarcação da área. Segundo suas informações, ele tramita há quase dez anos na Fundação Nacional do Índio (Funai).

Ontem, o líder dos trucás, Francisco Trucá, disse que não pretende sair da área. Por outro lado, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento dos Sem-Terra (MST) e outras organizações continuavam arregimentando mais pessoas para apoiar o protesto. É esperada para hoje a chegada de uma nova leva de trabalhadores dos municípios da região.

Ao conceder a ordem de reintegração, o juiz levou em conta a presença de índios na área em litígio. Por causa disso determinou que a Funai seja comunicada e que a Polícia Federal fique encarregada do despejo.

Segundo assessores da organização do acampamento, essas medidas tranqüilizaram os acampados. Como aumentou a presença de policiais militares na região, desde a ocupação, na terça-feira, eles temiam algum tipo de violência. ¿A Polícia Federal é mais preparada para essas operações¿, disse Domingos Rocha, da assessoria.

O projeto de transposição está orçado em R$ 6,6 bilhões e faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele prevê a construção de dois canais, para levar as águas captadas em Pernambuco para outras regiões do Nordeste.

De acordo com os críticos do projeto, a transposição não está destinada a atender à população mais pobre das zonas rurais e urbanas, mas sim aos grandes projetos agroindustriais da região. Pelas suas análises, 70% das águas vertidas pelos dois canais servirão para irrigação de grandes propriedades e atividades como a criação de camarão; 26% para uso industrial; e apenas 4% para pequenos agricultores e moradores das áreas mais pobres das cidades.