Título: Venezuela volta a atacar a 'direita'
Autor: Marin, Denise Chrispim e Palácios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2007, Economia, p. B4
Vice-presidente repetiu críticas de ministros de que conservadores resistem à entrada do país no Mercosul
A Venezuela voltou a atacar os 'grupos da direita reacionária' que se opõem ao processo de integração do Mercosul. Trata-se de expressão similar àquelas utilizadas, anteontem, nos ataques de dois ministros venezuelanos ao Congresso brasileiro e à Confederação Nacional da Indústria (CNI). Desta vez, o cenário foi oficial e não o palanque para a imprensa. Na 33ª Reunião de Cúpula do Mercosul, o vice-presidente da Venezuela, Jorge Rodríguez, valeu-se de seu discurso para criticar especialmente os setores supostamente contrários ao ingresso pleno de seu país ao Mercosul.
'Os setores conservadores inimigos da integração, a direita reacionária, são os mesmos que resistem à incorporação plena (da Venezuela)', disparou Rodríguez, que pouco antes havia cobrado do Brasil e do Paraguai a aprovação de seus congressos ao protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul, aprovado em julho de 2006.
Rodríguez defendeu também que o processo de adesão à área de livre comércio do Mercosul deve ser 'palpável' e adotado de 'forma gradativa'. O vice-presidente representou Hugo Chávez, que desde ontem visita oficialmente a Rússia e a Bielo-Rússia. Nos próximos dias, seguirá para o Irã. Sua ausência no encontro apenas indicou, como acentuou o chanceler Celso Amorim, uma 'definição de prioridades' por parte da Venezuela.
Anteontem, o ministro das Finanças da Venezuela, Rodrigo Cabezas, e o vice-chanceler para América Latina e Caribe, Rodolfo Sanz, renovaram os recentes ataques de Chávez ao Congresso brasileiro e acusaram a CNI de ser 'inimiga' do Mercosul. Sanz acrescentara que o Congresso é influenciado por 'grupos empresariais e políticos de direita' e criticara também sua 'ingerência' em assuntos internos venezuelanos, referindo-se à moção do Senado contra a negativa de Chávez à renovação da concessão para a emissora RCTV.
Além da resistência do Congresso brasileiro em aprovar o protocolo de adesão da Venezuela, resta outro obstáculo ainda mais duro. O presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, nem sequer enviou o documento ao Congresso de seu país. Na prática, espera a conclusão das negociações sobre a liberalização do comércio da Venezuela com o Brasil e a Argentina para definir se o encaminhará ou não.
'Para nós, é fundamental que a Venezuela incorpore todos os elementos do Tratado de Assunção (1991), as normativas adicionais e o programa de eliminação de tarifas na área de livre comércio', afirmou o ministro das Relações do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, à imprensa. A conclusão dessa negociação está agendada para o dia 2 de setembro.