Título: Mercosul deve ter exportação recorde
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2007, Economia, p. B8
Apesar das dificuldades políticas, vendas dentro do bloco devem alcançar US$ 30 bilhões neste ano, diz Funcex
Apesar das críticas setoriais e políticas, o Mercosul caminha para registrar novo recorde de exportações em 2007 entre os parceiros. O valor deverá fechar ao redor dos US$ 30 bilhões este ano, o triplo do registrado em 2002, ano considerado como o 'fundo do poço' nas vendas entre os parceiros, depois de sucessivas crises econômicas nos países membros, principalmente no Brasil e na Argentina.
A estimativa para 2007 é da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex). Levantamento feito pela entidade a pedido do Estado mostra que, depois do forte avanço no comércio entre os países membros de 1995 a 1998, as vendas internas foram declinando a partir de 1999.
Isso ocorreu não por um problema estrutural do bloco, mas principalmente por causa de sucessivas crises econômicas dos integrantes do bloco.
'No geral, o fluxo de comércio no Mercosul vai muito bem', diz o economista da Funcex Fernando Ribeiro. Ele explica que, no início desta década, os efeitos da desvalorização brasileira, em 1999, e da crise da Argentina, que fez o Produto Interno Bruto (PIB) do parceiro vizinho encolher pelo menos 20%, prejudicaram o comércio dentro do Mercosul.
Nos anos seguintes, a corrente de comércio entre os parceiros voltou a se recuperar. Entre 2002 e 2006, as exportações dentro do bloco cresceram 150%. Passaram de pouco mais de US$ 10 bilhões para US$ 25,5 bilhões no período. Para 2007, Ribeiro projeta um crescimento entre 10% e 15% dessas exportações, o que deverá ampliar as exportações internas para a casa dos US$ 30 bilhões.
A questão, explica Ribeiro, é que a expansão de vendas internas foi desproporcional entre os parceiros. Esse, talvez, seja o principal motivo das divergências e rivalidades internas. Entre 1998 e 2006, o valor das exportações da Argentina para parceiros do Mercosul permaneceu praticamente no mesmo nível. O Uruguai vende hoje para o bloco menos do que em 1998. Enquanto isso, as vendas brasileiras aumentaram perto de US$ 5 bilhões.
'O Uruguai vendia US$ 1,5 bilhão há oito anos para o Mercosul e atualmente exporta US$ 1 bilhão ao ano para o bloco. Ou seja, tem de chiar', argumenta o economista da Funcex. 'É preciso reconhecer isso. O argumento deles é o de que o Mercosul também tem de trazer benefício. A gente tem um baita saldo comercial com eles, e para eles isso é naturalmente desagradável. Eles param, olham e dizem que o Mercosul não está sendo favorável.'
ISOLAMENTO
No Brasil, surgem críticas de setores que sofreram restrições para vender para a Argentina e questionamentos se vale a pena o País permanecer no bloco, o que impossibilita fechar acordos bilaterais isoladamente. 'Não poder fazer acordo separadamente é um problema, a questão comercial, não', pondera Ribeiro.
Na avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o Brasil deveria partir para acordos com outros países e regiões. 'O Mercosul foi uma espécie de armadilha que o Brasil criou e caiu nela. Hoje, o País não pode fazer acordos bilaterais', observa o vice-presidente executivo da entidade, José Augusto de Castro.
O executivo defende a transformação do Mercosul numa espécie de acordo multilateral, que liberaria cada país para firmar acordos com outras regiões, conforme sua conveniência.