Título: Sob condições, Farc dispõem-se a entregar corpos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2007, Internacional, p. A30
Restos mortais de 11 deputados que estavam em poder do grupo serão entregues se ações militares cessarem
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) disseram-se dispostas a entregar os corpos dos 11 reféns que teriam sido mortos quando estavam em poder da guerrilha, mas exigiram a diminuição das ações militares na região onde seria feita a entrega.
¿Faremos os esforços necessários para coordenar a pronta entrega dos restos mortais (dos reféns)¿, diz Raúl Reyes, porta-voz das Farc, em cartas enviadas a Fabíola Perdomo, mulher de uma das vítimas, e Álvaro Leiva, um ex-ministro aceito pelos rebeldes como ¿gestor da paz¿. ¿No entanto, sua concretização dependerá da diminuição do confronto militar na região onde os fatos ocorrerão - que, por razões de segurança, nos abstemos de especificar por enquanto¿, completa.
Os reféns eram deputados da Província de Valle del Cauca e haviam sido capturados pelas Farc em abril de 2002. Eles faziam parte do grupo de 56 seqüestrados que os rebeldes pretendiam trocar com o governo por 500 guerrilheiros presos. Na quinta-feira, porém, a guerrilha divulgou num site que os 11 tinham morrido no dia 18, atingidos pelo ¿fogo cruzado¿ em um confronto com um ¿grupo militar não identificado¿. A versão deixou no ar a possibilidade de as mortes terem ocorrido numa tentativa de resgate fracassada, mas o presidente Álvaro Uribe negou que tal ação tivesse sido ordenada por seu governo. Num pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, ele acusou as Farc de terem executado ¿friamente¿ os deputados.
Ainda na quinta-feira, Uribe encontrou-se com os parentes dos reféns e pediu para a Organização dos Estados Americanos (OEA) ajudar a resgatar os corpos. O Conselho Permanente da OEA reuniu-se ontem para aprovar uma resolução que condena ¿energicamente¿ o episódio.
O anúncio da morte dos reféns continua a causar reações de revolta e solidariedade dentro e fora da Colômbia. Cerca de 10 mil pessoas reuniram-se na cidade de Buenaventura, em Valle del Cauca, para pedir o fim da violência. Em Genebra, a comissária da ONU para os Direitos Humanos, Louise Arbour, pediu ¿uma investigação completa e imparcial sobre os assassinatos¿.
Pouco depois, a comissária européia de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, defendeu a busca de uma ¿solução humanitária¿ para a questão dos seqüestrados e ressaltou que ¿os que privaram de liberdade¿ os deputados ¿são os responsáveis por suas mortes¿.
No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores emitiu um comunicado afirmando que o país ¿continua decidido a apoiar os esforços para assegurar uma paz estável e duradoura e fortalecer a democracia na Colômbia¿.
CRONOLOGIA
16/5: Policial John Frank Pinchao escapa de cativeiro das Farc e afirma que ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, refém desde 2002, está viva
18/5: Uribe ordena que o Exército resgate os reféns
25/5: Uribe anuncia que libertará centenas de guerrilheiros presos numa tentativa de pressionar a guerrilha a negociar a troca dos reféns
4/6: ¿Chanceler¿ das Farc, Rodrigo Granda, é solto para mediar as negociações com os rebeldes
28/6: Farc anunciam a morte de 11 deputados seqüestrados em 2002 em Valle del Cauca