Título: Renan e crise, fora da porteira
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2007, Nacional, p. A4

Sem a presença de parlamentares, evitando assim o constrangimento de convidar - ou deixar de convidar - o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu na noite de sábado o já tradicional ¿Arraiá do Torto¿. A festa, porém, nem de longe lembrou as primeiras edições, em 2003 e 2004, quando sobrava animação.

No primeiro ano de governo, Lula e a primeira-dama, Marisa Letícia, comemoraram a festa na chácara que têm em São Bernardo do Campo (SP). A partir de 2004, passaram a fazê-la na Granja do Torto, residência oficial da Presidência.

No sábado, fotógrafos e cinegrafistas foram autorizados pela primeira vez a registrar a festa por alguns minutos. O clima era bem familiar. Ao lado da primeira-dama e dos filhos, Lula recebeu o vice-presidente José Alencar, 13 ministros e poucos amigos, além de alguns assessores. Os convidados estavam em trajes típicos, como saia rodada e camisa xadrez. Muitas mulheres se pintaram. O comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, fez uma costeleta falsa na lateral de seu rosto.

Como de costume, cada convidado levou um prato típico. O quentão e o uísque, além do indispensável cachorro-quente, foram oferecidos pelos anfitriões. No final da festa, os visitantes receberam uma lembrancinha da primeira-dama: um cartão com uma mensagem afixado a um minichapéu de palha com uma paçoca dentro.

De camisa xadrez vermelha e branca, o presidente Lula se encarregou, como de praxe, de segurar o estandarte com as imagens de Santo Antônio, São João e São Pedro, em uma pequena procissão pelo Torto. A celebração começou pouco depois das 21 horas e foi comandada pelo chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Religioso, Carvalho puxou o Pai Nosso e a Ave Maria.

Não houve quadrilha. A dança típica junina foi abolida em 2005, quando as primeiras denúncias ligadas ao mensalão mudaram o tom da comemoração presidencial. Os convidados foram instruídos a não discutir política - mais uma providência para evitar que a celebração caipira acabasse resvalando para a temática rural do escândalo que envolve o presidente do Senado.