Título: Empresas médias, agora, vão ao exterior
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2007, Economia, p. B1
Nova onda inclui segmentos inusitados, como turismo e software
As empresas brasileiras vivem hoje uma nova onda de internacionalização. Depois de gigantes como a Vale do Rio Doce e a Gerdau terem fincado bandeira no exterior para produzirem commodities, agora é a vez de companhias médias, fora do ranking das 500 maiores do País, e de segmentos inusitados, como turismo, softwares, aromas para indústria alimentícia, por exemplo, terem negócios além das fronteiras nacionais. Nesse rol estão a operadora de turismo CVC, a Datasul e Duas Rodas, entre outras.
Só no ano passado, 70 companhias brasileiras se internacionalizaram, segundo a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), que pela primeira vez fez o levantamento. 'A internacionalização é crescente e cada vez mais pulverizada', observa o presidente da Sobeet, Luiz Afonso Lima.
Para o pesquisador da Fundação Dom Cabral, Álvaro Cyrino, um dos fatores macroeconômicos que levam as empresas a irem para o exterior é a crise de crescimento no Brasil. 'Ninguém investe num país que cresce praticamente no mesmo ritmo do Haiti.'
Lima rebate a análise e argumenta que a sobra de recursos no mundo, propiciada pelo déficit em conta corrente dos EUA, é o motor macroeconômico da internacionalização das companhias. Números do relatório sobre investimentos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), mostram que as economias emergentes e em transição se tornam cada vez mais significativos investidores diretos no exterior.
Entre 1990 e 2005, os investimentos diretos no exterior dos países desenvolvidos cresceram menos de três vezes. Em 1990, os investimentos dos países desenvolvidos somavam US$ 216,9 bilhões e atingiram US$ 646,2 bilhões em 2005, aponta o relatório.
Já os países emergentes e em transição ampliaram em mais de dez vezes as aplicações de recursos no exterior no mesmo período: de US$ 12,7 bilhões em 1990 para US$ 132,5 bilhões em 2005. 'O fenômeno não é exclusivo do Brasil, ocorre com todos os emergentes', diz Lima.
TURISMO
Diferenças de interpretação à parte, empresas brasileiras de médio porte arregaçaram as mangas para ganhar o mercado internacional. A operadora de turismo CVC, por exemplo, acaba de estrear na Europa, com uma agência em Paris que será inaugurada oficialmente em novembro. Itália e Alemanha estão na rota de investimento externos da companhia para o ano que vem, com a abertura de agências.
No caso da companhia de turismo, a lógica do investimento fora do País é ampliar a base de serviços para o brasileiro que vai ao exterior e aproveitar o fluxo contrário. Isto é, trazer mais turistas estrangeiros para o Brasil. A CVC já tem agências na Argentina, Chile e Uruguai.
A Duas Rodas, de Jaraguá do Sul, Santa Catarina, que produz cerca de 3 mil aromas para indústria de alimentos e tem fábricas no Chile e Argentina, escritórios no Peru e México, avalia a abertura de uma unidade de produção no México. 'Pretendemos ter mais uma fábrica na América Latina', diz o diretor Comercial, Hilton Siqueira Leonetti.
Com faturamento de R$ 300 milhões no ano passado, dos quais 20% vieram do exterior, a empresa sentiu a necessidade de ter fábricas fora do País para acompanhar clientes multinacionais, como Nestlé, Unilever, Coca-Cola, entre outras. É que essas companhias querem fornecedores regionais.
'Já estamos conversando com possíveis parceiros na China e, até 2010, provavelmente, teremos alguma coisa lá', diz o gerente de Novos Negócios, Carl Heinz Muller. Também nesse prazo a empresa pretende ter uma atuação mais próxima ao mercado europeu para onde já exporta.
Para O Boticário, que está há 20 anos no mercado internacional por meio de franquias, o objetivo de ir para fora do País é construir uma marca de renome mundial. Presente em 20 países, o próximo passo da companhia é criar uma grande vitrine internacional nos Estados Unidos e países da Europa para reforçar a marca, diz o diretor da Área Internacional, Roberto Garcia Neves .
A empresa tem lojas em Portugal, que foi o primeiro passo da sua internacionalização. Mas o executivo observa que a pretensão da companhia é ter presença em países da Europa mais representativos no mundo dos cosméticos. Em cinco anos, a meta é dobrar a fatia das franquias no exterior, no faturamento. Hoje, a participação é de 2,5%. 'É muito pequena, mas temos a convicção na marca', diz Neves.